"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 10, 2015

Os saques nas cadernetas e o aperto das famílias


Os saques líquidos nas contas de poupança atingiram R$ 5,5 bilhões em janeiro, dos quais R$ 4,4 bilhões saíram dos agentes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que aplica a quase totalidade dos recursos em habitação. O expressivo volume sacado - maior para um mês de janeiro desde 1995 - não tem impacto imediato sobre a oferta de crédito imobiliário, pois há sobra de recursos no sistema. Mas cabe avaliar o que determinou os saques e se estes tendem a prosseguir nos próximos meses.

A primeira hipótese é de que o aumento da taxa básica de juros empurrou os aplicadores em caderneta para os fundos DI, que rendem mais do que a poupança quando as taxas de administração são módicas. Mas a explicação não se sustenta: em janeiro, entraram nos fundos DI apenas R$ 1,7 bilhão, segundo a Anbima. Quando muito, houve pequeno deslocamento de aplicações, insuficiente para justificar os saques.

A segunda hipótese - e, provavelmente, a mais relevante - é de que se acentuou o grau de aperto das famílias, além do efeito sazonal comum no início do ano. Em janeiro de 2014, quando o desaquecimento econômico já era presente, houve um saldo líquido de depósitos nas cadernetas de R$ 1,7 bilhão.

Os depósitos de poupança mostraram, até 2014, enorme resistência - o saldo líquido (depósitos menos retiradas) foi de quase R$ 24 bilhões no SBPE, mesmo considerando que, em 2013, houve um saldo líquido de R$ 54,2 bilhões.

O que se indaga é se janeiro, quando os saques superaram em quase R$ 2 bilhões a remuneração, basta para indicar a mudança mais profunda. É no que acredita o presidente da associação dos executivos financeiros (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira: "Este ano será muito difícil para as famílias".

De fato, uma combinação de fatores negativos pressiona o orçamento das famílias. Em janeiro, por exemplo, subiram 6,91% as despesas com educação da classe média, com renda entre 10 e 39 salários mínimos, segundo o índice de custo de vida da Ordem dos Economistas do Brasil. A pressão continuará, com altas extraordinárias das contas de luz e dos combustíveis. A queda no Índice de Confiança do Consumidor medida pela Fecomercio-SP seria um fator de estímulo à poupança.

Mas novos depósitos dependem de haver sobras.
Parece predominar, assim, a imposição de pagar as contas, mesmo que para isso as famílias tenham de sacrificar reservas.


O Estado de S.Paulo

Dias Piores Virão

O quadro atual está distante do que ocorrerá nos próximos meses, quando as maldades do governo estiverem valendo de verdade. O que hoje é expectativa passará a ser constatação

A avaliação que os brasileiros fazem da situação econômica e social do país está degringolando a olhos vistos. Infelizmente, porém, o pior ainda está por vir. O quadro atual está distante do que deverá ocorrer no país nos próximos meses, quando as maldades do governo petista estiverem valendo de verdade.

Por ora, os brasileiros vivem a ressaca de uma eleição vencida à base de muita mentira, promessas frustradas e uma prática de governo diametralmente oposta à discurseira dos palanques. Desde a reeleição, lá se vão cento e poucos dias de desmentidos quase cotidianos às promessas de campanha. O povo não aceita.

O corte de benefícios sociais, o aumento de impostos e tarifas públicas, a alta dos juros e da inflação, a elevação do desemprego apenas começaram a despontar no horizonte. Só irão se manifestar com cores realmente fortes daqui a algumas semanas. Aí o que hoje está no campo das expectativas passará a ser constatação: a vida no país está mais difícil.

Se o governo avalia que sua situação atual é ruim, é melhor estar preparado para enfrentar a tormenta que virá. Enquanto para os petistas o que está em jogo é popularidade e preservação de um projeto político, para a população o buraco é muito mais embaixo: o que está ameaçada é a sobrevivência diária.

Não surpreende o pessimismo dos brasileiros. Crescimento, investimentos e consumo estão se retraindo. Diante da avalanche de corrupção, cresce a sensação de desalento. Na eleição, Dilma Rousseff dizia que tudo isso não passava de esperneio artificial da oposição.

O mau humor se nutre de uma realidade que se deteriora a olhos vistos. A inflação de janeiro passado foi a maior em 12 anos e as previsões para este ano pioram a cada semana. Os prognósticos para o crescimento do PIB afundam e agora já estão zerados.

Segundo o Datafolha, para 55% da população a situação econômica do país irá piorar nos próximos meses. Trata-se do mais alto nível de pessimismo em relação à economia desde que a questão começou a ser abordada pelo instituto, em dezembro de 1997.

Oito em cada dez brasileiros esperam que a inflação vá aumentar; há dois meses, eram 54%. Desde que o país reconquistou a estabilidade com o Plano Real em 1994, nunca o temor diante da carestia foi tão agudo entre os brasileiros quanto agora. Pessimismo similar afeta as expectativas quanto ao desemprego: 62% acham que ele vai subir.

O governo apostou todas as suas fichas na sua capacidade de iludir os cidadãos. Fiou-se na preservação do emprego, que logo começará a ratear. O suposto poder ilimitado do marketing petista de manipular a realidade não é capaz de fazer frente ao duro dia a dia enfrentado pela população. O país está mergulhado num universo de desencanto, mas ainda vai piorar bastante.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela