"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 28, 2014

CASO SANTANDER : 'Não tenho rabo preso. Sou pago para falar o que penso', diz analista de consultoria cerceada pelo PT

Na última sexta-feira, toda a artilharia petista se armou contra o banco Santander depois que um relatório enviado a clientes de alta renda previa mais dificuldades para a economia brasileira se a presidente Dilma Rousseff se reeleger. Temendo represália, o banco enviou nota ao mercado desculpando-se pelo texto da equipe de análise e assegurando que medidas haviam sido tomadas em relação aos responsáveis. 

No mesmo dia, o partido silenciosamente protocolou uma representação contra a consultoria de investimentos Empiricus Research no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A justificativa foi a mesma que a usada pelo presidente do PT, Rui Falcão, para recriminar o banco Santander na sexta-feira: "terrorismo eleitoral". Ou, de forma mais sofisticada, "fazer manifestações que interfiram na decisão de voto".

Segundo a representação, a Empiricus estaria vinculada ao candidato tucano Aécio Neves, à coligação Muda Brasil e ao Google numa campanha com o intuito de manchar a imagem da presidente Dilma por meio de propaganda paga. A consultoria, conhecida no mercado pela forma dinâmica e descomplicada com que produz suas análises, anunciou alguns de seus textos por meio da ferramenta Google Ads. 

Ao longo do último mês, permaneceram em evidência no Google os anúncios mais clicados por leitores, que eram justamente os textos intitulados: 
Como se proteger de Dilma e E se Aécio ganhar. O ministro Admar Gonzaga, do TSE, acatou o pedido protocolado em nome de Dilma e concedeu liminar impedindo a Empiricus de propagandear suas análises no Google. 

O gigante da internet também foi alvo de representação, assim como o candidato do PSDB e sua coligação. Em entrevista ao site de VEJA, o autor dos textos, Felipe Miranda, afirmou que a medida não intimidará seu trabalho. "O que já vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou com esse cerceamento. Mas vamos continuar atuando da mesma forma. Não tenho rabo preso e sou pago pelos meus clientes para falar o que penso", afirma. 

Confira trechos da conversa.
O TSE informou a consultoria sobre a representação do PT?
Não, ainda não recebemos nenhum comunicado oficial. Ficamos sabendo pela internet. Mas a situação é absurda, pois não há campanha eleitoral da nossa parte. Podem não gostar do que escrevemos, mas nos colocar ali é absurdo.

Estão impedidos de produzir análises com foco eleitoral?
Não. Há uma liminar que nos obriga a tirar aqueles textos do ar. Mas não existe a possibilidade de alguém nos proibir de fazer nossas análises críticas, pois aí seria censura explícita. Já seria um ato institucional contra a liberdade de expressão. Além disso, o que já vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou com esse cerceamento. Mas vamos continuar atuando da mesma forma. Não tenho rabo preso e sou pago pelos meus clientes para falar o que penso.

Como o Google distribuiu os anúncios dos textos produzidos pela Empiricus?
Os dois textos são muito claros: tratam de uma tese econômica que não é nova e que mostra que a bolsa cai quando a Dilma sobe nas pesquisas, e sobe quando o Aécio melhora. O objetivo é simples: nossos clientes devem se proteger desses solavancos. Os anúncios dos textos chegam de forma idêntica ao Google, mas, de acordo com a métrica de distribuição desses anúncios, ficam mais expostos os que são mais clicados. Diante disso, podemos escolher tirar do Google Ads os anúncios menos rentáveis. O que não foi o caso dos anúncios sobre as perspectivas econômicas num cenário de vitória da Dilma e do Aécio.

A consultoria sofreu algum tipo de represália fora a representação no TSE?
Tirando esse clima de caça às bruxas, de perseguição, nada foi feito. Há, claro, a militância. Desde a semana passada recebo xingamentos e ameaças de toda a natureza por email e por meio das redes sociais. Nosso site já caiu várias vezes e tentaram invadir nossos emails. 

Desde a repercussão do caso Santander, o mercado está mais amedrontado?
Não posso falar pelo mercado, pois não estou a par. Mas o que é certo é que estão tentando cercear nossa liberdade e nosso dever fiduciário de prover boas dicas. Nós estamos pessimistas em relação à economia e não posso ignorar isso em minhas análises. No caso do Santander, entendo que ficou feio para o banco ter de voltar atrás na opinião de um analista. Mas não me surpreende, pois os grandes bancos não querem romper relações com o governo. Mas nós somos independentes e só temos compromisso com nossos clientes.

Ana Clara Costa
Veja.com

POBRE BRASIL REAL ! HERANÇA MALDITA/CAIXA DE PANDORA/TERRA ARRASADA OU O maior truque do mundo: gastos com previdência.

Eu não estava planejando entrar neste debate, mas não há como deixar de fazer um alerta sobre a forte desaceleração no crescimento dos gastos com previdência até maio deste ano. Coisa que nem Houdini conseguiria fazer!

Como se pode observar pela tabela abaixo, desde 1997, em apenas um ano, 2008, o crescimento da despesa previdenciária foi um pouco abaixo de 10% nos primeiros cinco meses do ano. Em todos os demais, o crescimento foi sempre acima de 10% até mesmo no primeiro ano do governo Dilma, em 2011, quando apesar do crescimento real de “zero” do salario mínimo, a despesa com benefícios previdenciários cresceram nos cinco primeiros meses do ano 10,4%.

Como é possível então que o crescimento da despesa com previdência este ano nos primeiros cinco meses do ano tenha sido de apenas 5,3%, com crescimento real do salário mínimo que foi de 1%, maior portanto que em 2011? Simplesmente não é possível.

Em linguagem simples e direta, o crescimento da despesa com previdência de janeiro a maio deste foi de R$ 7,4 bilhões, de acordo com o Tesouro Nacional, quando deveria ter sido pelo menos o dobro desse valor. 

Como pode? 
Não pode e tem algum truque fiscal aqui.

Primeiro truque, o governo postergou o pagamento de precatórios e sentenças judiciais da previdência para o final do ano. Assim, parte da “desaceleração” da conta de previdência é, na verdade, o adiamento de pagamentos que sempre ocorrem nos meses de abril de todos os anos.

Segundo truque, e aqui o caso é mais sério, é possível que o governo esteja utilizando bancos públicos (a Caixa Econômica Federal, por exemplo) para fazer o pagamento dos benefícios e apenas posteriormente repassando os recursos para a CEF. Não sei se isso ocorreu ou vem ocorrendo, mas, teoricamente, é possível que a despesa previdenciária seja paga por um banco público antes da saída do recurso da Conta Única do Tesouro exatamente na virada do mês. Assim, com uma defasagem de poucos dias, seria possível gerar uma falsa economia na despesa previdenciária.

Você tem provas que isso vem ocorrendo? 
Não tenho, mas desconfio que isso esteja acontecendo e, se estiver, desconfio da legalidade desse tipo de operação. Tenho certeza de uma coisa: É IMPOSSIVEL que a despesa com previdência tenha crescido apenas 5% de janeiro a maio deste ano. 
Vou repetir: IMPOSSÍVEL.

O Valor Econômico de hoje traz uma matéria na qual analistas se esforçam para entender como o gasto da previdência cresceu tão pouco neste ano. Não conseguiram e não vão conseguir porque, se a minha hipótese dois acima estiver correta, não há como conseguir captar isso em nenhum documento público. 
Sim, uma auditoria do TCU poderia esclarecer este mistério.

O que me assusta é que, se o governo chegou a este ponto, e espero estar errado, a situação fiscal já está muito mais grave do que todos nós pensamos. O que seria uma situação fiscal muito mais grave? Seria um superávit primário sem receitas não recorrentes próximo de “zero”. Infelizmente, chegamos a um ponto no qual simplesmente não sabemos a real situação das contas públicas. Isto é um primeiro passo para perdermos o grau de investimento.

Gastos com Previdência de Janeiro a Maio 
– R$ milhões correntes – 1997-2014


Fonte: Tesouro Nacional