"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 17, 2013

SEM MARQUETINGUE ! RUINDO A FALSA REPUTAÇÃO. DEPOIS DO "JEITINHO" DO BUFÃO, NO FINANCIAL TIMES AGORA É A VEZ DOS "NÚMEROS ERRADOS" DA REVISTA THE ECONOMIST : ‘The Economist’ critica ‘contabilidade criativa’ do Brasil


A admiração da opinião pública internacional pela economia brasileira parece cada vez menor. Na edição que chega nesta quinta-feira às bancas na Europa, a revista The Economist (www.economist.com) lança mais uma série de duras críticas ao governo de Dilma Rousseff.  

Ao questionar os recentes artifícios usados pela equipe econômica nas contas públicas, a revista diz que "a mudança na meta (de superávit primário) seria uma alternativa melhor do que recorrer à contabilidade criativa".
Com o título Números errados, a reportagem da revista diz que os dados econômicos "decepcionantes" não param de ser divulgados no Brasil. Depois do fraco Produto Interno Bruto (PIB) apresentado em novembro, o governo de Dilma Rousseff agora "admite que só atingiu a meta de superávit primário" após "omitir algumas despesas em infraestrutura", "antecipar dividendos de estatais" e "atacar o fundo soberano".

Além disso, a revista diz que outra má notícia veio com a inflação que, agora, traz ainda mais "escuridão" ao cenário. Para a Economist, se o governo não tivesse segurado os preços da gasolina e do transporte público, a inflação de 2012 teria chegado "mais perto de 6,5%", o teto da meta do regime de inflação no Brasil. "Em 2013, esses preços tendem a subir", diz a reportagem.

Para a revista, a resposta do governo brasileiro ao cenário negativo alimenta temores de que o Brasil pode estar ingressando em um período de inflação mais alta com crescimento baixo. "Atingida pela crítica, Dilma Rousseff ressalta que o Brasil ainda cresce mais rápido que a Europa. Isso é verdade, mas a maioria das outras economias emergentes, incluindo a América Latina, está melhor", pondera a publicação.

A manobra nas contas públicas desaponta, diz a revista, mas não chega a ser uma surpresa. A reportagem lembra que a equipe econômica já usou expediente semelhante em 2010 em uma "complicada troca de títulos entre o Tesouro Nacional e a Petrobrás" que "magicamente adicionou 0,9% do PIB ao superávit". "Provavelmente, o Brasil poderia executar um superávit primário menor sem arriscar sua reputação duramente conquistada com a sobriedade fiscal. Mudar a meta seria uma maneira melhor de fazer isso do que recorrer à contabilidade criativa".

A revista demonstra, ainda, preocupação com um possível enfraquecimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O risco, diz o texto, é que com uma eleição presidencial em 2014 "as autoridades farão o que for preciso para atender sua previsão de crescimento de 4% este ano".

Gasolina no fogo

Depois de muito postergar, o governo passou a admitir que reajustará o preço dos combustíveis nos próximos dias. A medida, correta, chegará com largo atraso, como parte dos "jeitinhos" dos quais Brasília tem lançado mão para evitar que sua política econômica desmorone de vez.

Os preços da gasolina e do diesel vêm sendo manipulados há anos para evitar altas maiores na inflação - sem muito sucesso, diga-se de passagem. Estima-se que a defasagem em relação aos preços internacionais seja atualmente de 16% no caso da primeira e de 23% no do segundo, conforme
estimativa do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Isso causa um tremendo rombo nas contas da Petrobras e compromete o plano de investimentos da companhia (de US$ 236 bilhões até 2016), com consequências daninhas, por exemplo, para a expansão da oferta de derivados no mercado nacional. Hoje, a estatal paga pelo combustível que é obrigada a importar para suprir a demanda interna mais do que cobra dos consumidores finais.

O reajuste previsto até agora cobrirá apenas parte da diferença. Especula-se que o aumento ficará em torno de 7%, percentual que autoridades do Ministério da Fazenda consideram "plausível". A justificativa é que, se a elevação for maior que esta, a inflação poderia sair do controle. Equivale a dizer que, se soprar, a casa cai.

O "jeitinho" custa caro à Petrobras, mas cobra preço ainda maior na forma da total desorganização que causou ao setor de combustíveis no país. Hoje, o Brasil tornou-se dependente de importação não apenas de gasolina, mas também de etanol, do qual até pouco tempo atrás era tido como produtor imbatível.

Em 2012, os gastos com importação de gasolina cresceram 82% na comparação com o ano anterior e o volume de etanol comprado lá fora cresceu 57%. Foram adquiridos 3,78 bilhões de litros de gasolina, que fizeram o país torrar US$ 2,9 bilhões, e 3,1 bilhões de litros de etanol, informou a
Folha de S.Paulo na terça-feira.

O setor de combustíveis serve para ilustrar a ingerência excessiva do governo na atividade econômica e os desequilíbrios que daí advêm. A manipulação dos preços acabou gerando uma inflação reprimida que, agora, a gestão petista busca contornar por meio de malabarismos de toda sorte, que o
Financial Times ironizou como "jeitinho monetário".

Neste ambiente, o governo federal agora tem de apelar a estados e municípios - como no caso da postergação dos reajustes das passagens de ônibus em São Paulo e no Rio - para que as práticas capengas de Brasília não descambem. Mais uma vez, as finanças subnacionais são chamadas a pagar a conta dos desequilíbrios cometidos pelo poder central.


"Os truques, adiamentos, defasagens e subsídios criam uma inflação reprimida. Como sabemos, não adianta esconder, negar, varrer para debaixo do tapete porque a inflação sempre aparece. 
(...) 
Como aprendemos dolorosamente, em economia não dá para apenas quebrar o termômetro", escreve Miriam Leitão n'O Globo.

Vai ficando claro que as autoridades do governo Dilma Rousseff já não dispõem de instrumentos eficazes de gestão da economia e, mais especialmente, de controle da inflação. O histórico de improvisos cobra agora seu preço. Ter agido assim ao longo de tantos anos, a despeito dos muitos alertas em contrário, equivaleu a atiçar gasolina no fogo.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela 
Gasolina no fogo

Militares põem em livro versão sobre repressão. UM LIVRO HISTÓRICO FUNDAMENTAL. ORVIL TENTATIVAS DE TOMADA DO PODER


Vendido em apenas quatro li­vrarias, mas lançado em clu­bes e círculos militares de 14 cidades, Orvil - Tentativas de Tomada do Poder, versão de oficiais do Centro de Informa­ções do Exército (CIE) sobre a repressão, volta às prateleiras até o fim do mês com uma tira­gem de mais dois mil exempla­res. 

As três primeiras remes­sas, de mil exemplares cada uma, esgotaram-se em três me­ses.
 O livro é assinado pelo te­nente-coronel reformado Lício Augusto Maciel e pelo te­nente reformado José Conegundes Nascimento, que tra­balharam sob a coordenação do general Agnaldo Del Nero Augusto, morto em 2009. Ou­tros oficiais que participaram do projeto não quiseram que seus nomes aparecessem.

Disponível pela internet no si­te da mulher do coronel reforma­do Carlos Alberto Ustra, que che­fiou o DOI- Codi (órgão de infor­mação e repressão do Exército, em São Paulo) e assina a apresen­tação, o texto original do Projeto Orvil ficou pronto em 1987, mas o então ministro do Exército, gene­ral Leônidas Pires Gonçalves, que havia autorizado o levanta­mento, não permitiu que fosse pu­blicado. 
A iniciativa do CIE pre­tendia ser uma resposta ao livro Brasil: 
Nunca Mais, de denúncias de prisões, torturas e assassina­tos durante o regime militar, es­crito poruma equipe ligada ao car­deal d. Paulo Evaristo Arns.

A publicação de Orvil (Editora Schoba, R$ 72,90), segundo o ge­neral reformado Geraldo Luiz Nery da Silva, autor do prefácio, é uma reação à criação da Comis­são Nacional da Verdade.
 "Rele­va enfatizar neste prólogo", escre­ve o general, " que os revanchistas da esquerda que estão no po­der - não satisfeitos com as gra­ves restrições de recursos impos­tas às Forças Armadas e com o tratamento discriminatório da­dos aos militares sob todos os aspectos, especialmente o financei­ro - tiveram a petulância de criar, com o conluio de um inexpressi­vo Congresso, o que ousaram cha­mar de comissão da verdade".

Volume de 924 páginas, Orvil - livro, escrito ao contrário - desta­ca o golpe - ou contrarrevolução de 1964, como preferem seus auto­res - que derrubou o presidente João Goulart e a ação de organiza­ções clandestinas que no período de 1966 a 1975 combateram o regi­me militar pela luta armada. 
A primeira parte trata da Intentona Co­munista de 1935 e a quarta parte analisa a opção da esquerda por uma nova estratégia- a"doutrinação" pelos meios de comunica­ção, instituições de ensino, sindi­catos e movimentos populares so­bre a necessidade da revolução.

Dilma. 
A presidente Dilma Rousseff é citada três vezes e o ex-presi­dente Femando Henrique Cardo­so uma vez, no índice onomástico de mais de 800 nomes de militan­tes e teóricos do marxismo que se envolveram direta ou indireta­mente na luta armada. 
Dilma Vana Rousseff Linhares aparece co­mo membro do setor de logística do Colina (Comando de Liberta­ção Nacional), depois na VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), sempre em notas de rodapé. O livro informa que a ex-presidente foi presa.

"No Centro Brasileiro de Pes­quisas foram contatados Fernan­do Henrique Cardoso, José Artur Gianotti e outros elementos, em busca de inspiração", registram os autores, ao relatar a ação de Piragibe Castro Alves que viajou de Paris para São Paulo em busca de apoio para o Movimento Popu­lar de Libertação.

O livro descreve a agitação estu­dantil de 1968, citando o nome de José Dirceu de Oliveira e Silva, em rodapé, ao falar do congresso da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna (SP). O deputado José Genoino é mencionado no episó­dio da guerrilha do Araguaia.

Outros episódios destacados são a deserção, luta e morte do ca-pitão Carlos Lamarca, a ação de Carlos Marighella e o caso Vladimir Herzog, sempre na versão ofi­cial divulgada na época. Lamarca teria morrido num tiroteio no in­terior da Bahia, Marighella teria levado um tiro ao resistir a agen­tes de segurança na Alameda Ca­sa Branca, em São Paulo, e Herzog se teria suicidado numa cela do DOI-Codi.

Os autores atribuem à censu­ra dos meios de comunicação "a falta de conhecimento e de con­vicção que predisporiam a po­pulação a aceitar como verdade os fatos que lhe fossem oferecidos de forma racional ou emo­cional". Daí, segundo os mílitares, as repercuísões negativas do Ato Institucional n.°5 (AI-5) e a apresentação do regime como "brutal ditadura militar latino-americana".



José Maria Mayrink O Estado de S. Paulo

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Há longo tempo inserido na Grande Rede, para livre consulta, cópia e
download, o ORVIL não teve a repercussão nem a difusão desejadas pelos
autores da louvável iniciativa (portal www.averdadesufocada.com.br).

O exemplar inicialmente disponibilizado na Internet apresenta-se
digitalizado em pdf/imagem, com páginas contendo muitos carimbos,
fotografias bastante deterioradas e texto dito justificado, de
incômoda leitura e de conversão complexa para ser editado.

Foi decidido, então, pelos Organizadores, mediante entendimento com os
seus remanescentes legítimos participantes da obra – Comissão do CIE
–, elaborar esta Edição Comemorativa do 48º Aniversário da

Contrarrevolução de 31 de Março de 1964.

Os exaustivos trabalhos de compilação para recuperação do extenso
texto, das possíveis imagens, eliminação de carimbos, conversão e
digitação, bem como das tarefas de diagramação e das revisões,
estenderam-se por mais de um ano e meio, até a fase de apresentação à

Editora para publicação.

O texto do ORVIL foi fielmente mantido, atualizado de acordo com a
nova ortografia, sendo algumas fotografias substituídas por outras mais nítidas.
O livro ficou com 920 páginas, capa dura, formato 16,3×23, e contém,
além do índice remissivo, extenso índice onomástico e os seguintes
acréscimos:
Apresentação:

 Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Prefácio: 

General Geraldo Luiz Nery da Silva.
Breve Necrológio do General Del Nero 

(Coordenador e um dos escritores da Obra): 
General Valmir Fonseca Azevedo Pereira.
Palavras de um Amigo de Infância do General Del Nero: 

Deputado Nelson Marquezelli.
Epílogo: 

Brigadeiro Ivan Frota.
Contracapa: 

General Aricildes de Moraes Motta.
Organizadores:

 Tenente-Coronel Licio Maciel 
e Tenente José Conegundes do Nascimento.

Preço de Capa: R$ 72,00


Editora: Schoba



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Dupla distorção


Tem pessoas assim:
dizem uma coisa, fazem outra. Mentirosas - é a interpretação que ocorre imediatamente. E, se solicitados exemplos, quase todo mundo dirá:
governantes,
políticos,
deputados e senadores em especial etc.

Mas isso é senso comum.
Podemos complicar a história.
E quando as pessoas acreditam mesmo que fazem o que dizem, embora haja notória diferença entre discurso e atos?

Por exemplo:
a pessoa jura que está fazendo regime, mas só engorda.
A tendência imediata é desqualificá-la:
quem pensa que está enganando?

Pois pode acontecer diferente:
a pessoa acredita genuinamente que faz regime e que só não emagrece por algum outro fator, criado na sua imaginação:
"Dieta não funciona comigo."

Esse tipo de pessoa vê o mundo através de suas ideias exclusivas ou suas fobias. Ressalva:
sim, todos vemos o mundo através de nossa subjetividade, mas é preciso admitir que conseguimos perceber (ou construir, vá lá) alguma objetividade.
Dito de outro modo:
temos nossos desentendimentos e mal-entendidos - e disso, por exemplo, se alimenta a literatura -, mas vemos, vivemos e transitamos numa mesma realidade fundamental.

Considerem, por outro lado, um caso patológico clássico:
a menina de 1,70 metro, 40 quilos, olha-se no espelho e vê uma gorda.
Ela não está mentindo. Sofre de distorção da imagem corporal.
É o extremo, mas muita gente normal tem dificuldade na adequada visão e interpretação dos fatos.

Será que o pessoal da equipe econômica do governo Dilma sofre de coisas parecidas? Claro, não estamos chamando ninguém de louco, mas tem havido muitos episódios de distorção de imagem.

Caso do superávit primário, por exemplo.
Todo mundo sabe de que se trata:
o resultado das receitas do governo menos as despesas não financeiras.
Em termos mais comuns:
"A economia que o governo faz para pagar juros da dívida."

Claro, há divergências razoáveis na realização da conta. Receitas e despesas podem ser classificadas de diferentes maneiras, isso logicamente alterando o resultado final.

Mas as operações feitas pelo governo Dilma para alcançar a meta do superávit do ano passado são tão distorcidas que mesmo aliados próximos ficaram envergonhados. E não esconderam isso.

Eis o quadro, portanto:
o governo diz que alcançou uma determinada meta de superávit, mas todo mundo sério sabe que não é verdade. O número real saiu menor.

Mais complicado ainda: todos os aliados e muitos não aliados, inclusive de instituições internacionais, observavam já há tempos que o governo tinha bons motivos para reduzir a meta daquele superávit. Diziam:
gastando menos com juros, já que as taxas caíram, a economia necessária para reduzir a dívida pública é menor.

Logo, pode não ser, mas parece coisa de louco:
o governo Dilma poderia ter aplicado uma redução do tal primário - ou "adequação", se o marqueteiro fizesse questão - que a coisa passaria. Em vez disso, rouba nas contas para anunciar um resultado que todos sabem ser falso.
O governo mentiu por nada, disse um aliado.

Questões:
será que a presidente e seu pessoal acreditam mesmo nas suas contas?
Ou acharam que ninguém perceberia a fraude?
Ou acharam que as pessoas poderiam perceber, mas e daí?

Acontece a mesma coisa com a taxa de câmbio. Em um determinado momento do ano passado, ficou óbvio: toda vez que a cotação do dólar ameaçava passar dos R$ 2,10, o governo vendia moeda americana e derrubava a taxa; toda vez que a taxa, inversamente, ameaçava cair abaixo de R$ 2,00, o governo comprava dólar e puxava cotação para cima.

Com ficou assim por um bom tempo, estava na cara:
acabou o regime de câmbio flutuante, temos uma banda de variação cambial.

Negativo, responderam os representantes do governo, o dólar flutua como antes. Já escolados, operadores e analistas simplesmente deixaram pra lá. OK, diziam, não tem banda, mas, se você não quer perder dinheiro, aja como se tivesse.
Lá pelas tantas, porém, final do ano passado, a presidente Dilma disse que seu governo queria um real mais desvalorizado. O ministro Mantega chegou a sugerir cotação perto dos R$ 2,40.

 Como, de fato, o dólar se aproximava dos R$ 2,10 e o governo parecia quieto, o pessoal concluiu:
vai furar o teto da banda ou a banda vai para um patamar acima.
Nesse momento, o BC entra vendendo dólar e a cotação volta a cair.

Questões:
o governo acredita mesmo que não tem a banda cambial? Ou simplesmente acha que é melhor ter e dizer que não tem? Ou existe um teto, de fato, de R$ 2,10, mas o governo preferia que não tivesse?

A presidente Dilma e seus assessores foram historicamente contra o famoso tripé da era FHC, superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação. Pelos atos atuais, estão desarmando o tripé. No discurso, porém, juram que são fiéis praticantes do sistema.

Resulta em dupla distorção:
da política real e das ideias. 

Carlos Alberto Sardenberg O Globo 

Copom mantém a taxa básica de juros em 7,25% ao ano


Após ser criticado por manter os juros básicos no menor patamar da história, apesar do aumento da inflação, o Banco Central (BC) reafirmou nesta quarta-feira sua estratégia. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 7,25% ao ano. O colegiado admitiu que houve uma piora no balanço de riscos para a alta de preços a curto prazo, que a recuperação da economia está mais lenta que o esperado e que o ambiente internacional é incerto. 

Dado esse quadro, o Copom garantiu que a estabilidade dos juros por um período suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para controlar a inflação. Por outro lado, sumiu da nota do Banco Central a informação de que a inflação convergiria para seu objetivo de forma não linear, o que motivou ataques dos economistas. Para janeiro, os analistas do mercado já preveem que a inflação vá ficar em 0,78%.

Para o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, o que o BC quis dizer é que alterar a taxa de juros, agora, não seria garantia de queda da inflação no futuro:

O BC quis dizer que está atento, mas não há muito o que fazer agora, porque todo o trabalho sujo que seria feito pelos juros para desacelerar a economia já está em curso.

No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado oficialmente no sistema de metas do governo, ficou em 5,84%. Fechou 2012 acima do objetivo central do governo de 4,5%, mas ainda dentro da margem de tolerância de dois pontos percentuais. Como a previsão do próprio BC é de uma inflação de 4,8% e a do mercado é de 5,53%, os críticos batem na tecla de que a instituição abandonou o alvo central da meta.

É uma política do governo, e não do BC, manter a Selic o mais baixo possível durante o maior tempo possível disse o economista da MB Associados Sérgio Vale. Quando a inflação começar a se aproximar de 6,5%, o que deve ocorrer mais para o fim do ano, ai, sim, o BC começará a pensar nisso.

Para o ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Kawall, a inflação está muito elevada para o nível baixo de crescimento atual. Os preços sobem porque o mercado de trabalho está aquecido. Ele disse que, se a economia estivesse se expandindo a um ritmo de 3% ao ano, a política de juros seria de alta da taxa básica. Mas, agora, o BC tenta calibrar as decisões para não afetar a atividade econômica:

É uma tolerância para não sacrificar a economia disse Kawall.

Após a decisão, a expectativa se volta para o teor da ata do Copom, que será publicada na semana que vem. Os analistas têm dúvidas de como temas como aumento da gasolina e política fiscal serão tratados. Para o economista do Santander Ricardo Denadai, isso será importante, sobretudo, para entender melhor como será a estratégia do BC neste cenário complexo:

Temos um balanço de recuperação lenta da atividade e inflação alta. E o BC vai insistir nessa política?

Abandono do centro da meta de inflação

Para especialistas, o BC sinalizou, com a manutenção da Selic em 7,25%, que não mira mais o centro da meta de inflação, e que toleraria uma alta dos preços maior para não prejudicar o crescimento da economia. Economistas lembram, no entanto, que os juros baixos não têm surtido o efeito desejado no crescimento da economia, assim como o câmbio depreciado e incentivos fiscais pontuais à indústria.

Eles criticam o que consideram ser uma avaliação equivocada do governo sobre o crescimento: o que falta não é demanda por consumo, mas investimento e produtividade.

Para Sérgio Vale, economista da MB Associados, a falta de comprometimento em levar a inflação para o centro da meta eleva o risco de o BC perder a mão, e o IPCA ficar mais perto do teto da meta de inflação no ano que vem:

O governo acreditava que manter juros baixos e câmbio depreciado bastaria para o crescimento. Hoje não há espaço para cair mais os juros e depreciar o câmbio, justamente por causa da inflação. E não há espaço para mudar a politica econômica. Estamos engessados em 2013.

Quinto juro real mais alto do mundo

Para o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, ao manter os juros, a autoridade monetária abandona o sistema de metas de inflação:

Não há mais mecanismo para controlar inflação. O que o governo faz agora é apelar para prefeitos para não subir tarifas de ônibus.

Mesmo com a manutenção da taxa Selic em 7,25% ao ano, o Brasil se distanciou um pouco mais do topo do ranking de maiores taxas de juros reais do mundo, passando do terceiro para o quinto lugar. A queda, segundo o economista Jason Vieira, responsável pela elaboração da lista, deveu-se mais a altas nas taxas de juros de outros países.
Ciclo de queda dos juros básicos chegou ao fim Foto: O Globo
 Gabriela ValenteO Globo
(Colaboraram Daniel Haidar e João Sorima Neto)