"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 11, 2012

REPÚBLICA TORPE! CANALHA É CANALHA : CADA DISTRITAL QUER UM CARRO DE LUXO. E QUEM PAGA É VOCÊ

Pressionados, os deputados distritais acabaram com o 14º e 15º salários, mas agora manobram para conseguir comprar um veículo oficial para cada parlamentar.

O custo pode chegar a R$ 2,3 milhões


Pressionados, os deputados distritais acabaram com o 14º e o 15º salários, mas agora manobram para conseguir comprar um veículo oficial para cada parlamentar. O custo pode chegar a R$ 2,3 milhões



Qual a relação entre submarino e carro?
Uma resposta possível pode vir logo à mente:
ambos servem para o transporte de cargas e de pessoas.

Mas na Câmara Legislativa os deputados utilizaram uma forma diferente de fazer esses dois veículos interagirem.

A embarcação criada para submergir em águas profundas tem uma conotação no meio político:
camuflar,
disfarçar,
esconder a verdadeira intenção.

Em uma das raras vezes em que os distritais votaram um projeto de lei neste ano, em 15 de fevereiro, a artimanha foi usada para aprovar uma emenda submarino que pode beneficiá-los diretamente.


Talvez nem todos os 18 distritais que aprovaram o Projeto de Lei n.º 336/2011 tenham percebido a manobra, mas pelo menos os três membros da Mesa Diretora que subscreveram a emenda —
Aylton Gomes (PR),
Dr. Michel (PSL)
e Olair Francisco (PTdoB) —
conhecem o teor e o objetivo da medida: suprimir trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que restringe a compra de carros oficiais no Distrito Federal.

A mudança permite à Casa adquirir quantos automóveis pretender,
e abre brecha para todos os órgãos do Distrito Federal fazerem o mesmo.

No mês passado, o presidente da Mesa Diretora, Patrício (PT), encomendou estudo para a compra de 16 automóveis para atender as comissões internas.

No entanto, a área técnica recebeu um pedido diferente do feito pela 2ª Secretaria, comandada por Aylton:
verificar quanto custa a aquisição de 26 veículos — o que daria para atender todos os distritais da Casa.


Se a marca e o modelo escolhido pelo órgão for o mesmo usado pela presidência, um Ford Fusion avaliado em R$ 90 mil, a resposta é fácil:
o custo da brincadeira sairia por R$ 2,3 milhões.

Ao Correio, o segundo-secretário disse não se lembrar o número exato em estudo, mas afirma que os veículos servirão apenas para as comissões.

"Quem faz essa compra é a 2ª Secretaria, mas ainda estamos fazendo um debate na Mesa Diretora para verificar a quantidade. Não conhecemos a real precisão nem os modelos necessários", disse Aylton.

Quanto à emenda, ele diz que foi aprovada para dar flexibilidade ao processo de compra. "Ainda não temos nada definido. Assumi a pasta recentemente e estamos começando a tomar as decisões", completou o deputado do PR.


Exemplos

A aquisição de automóveis para parlamentares é uma ideia vigente em outros estados. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), por exemplo, aprovou na última quarta-feira, por unanimidade, a padronização da frota usada pelos 70 deputados estaduais.

O carro escolhido foi o Renault Fluence, que custa R$ 76.390.

Segundo a Alerj, a previsão inicial é trocar 35 unidades, por meio de licitação calculada em R$ 2,9 milhões. A Câmara de Vereadores carioca tentou fazer o mesmo no ano passado.

Eles iriam gastar R$ 3,5 milhões em 51 automóveis, mas a transação teve de ser cancelada devido à pressão popular.


Um dos fatos que causa maior estranheza no processo da Câmara brasiliense é a forma não transparente escolhida para a tramitação.

O PL n.º 336/2011, que entrou em pauta em 15 de fevereiro, buscava, exclusivamente, autorizar
crédito adicional de R$ 53 milhões ao orçamento deste ano.

No entanto, a Emenda Aditiva n.º 15/2012, apresentada diretamente em plenário pela segunda secretaria, tratou de assunto diferente da proposição original. O novo texto buscou revogar a alínea "e" do inciso IV, artigo 25, da Lei n° 4.614.

O trecho em questão veda a aquisição de veículos de representação neste ano, a não ser para substituir carros com mais de cinco anos em uso por membros do primeiro escalão do Executivo e do Legislativo local.


Além dessa emenda, outras 14 foram apresentadas e aprovadas pelos distritais, mas todas tratavam da destinação das verbas.

Como o projeto tramitou em regime de urgência, o parecer da Comissão de Orçamento e Finanças (Ceof) foi lido rapidamente, em plenário, pelo relator Wasny de Roure (PT).

Só não participaram da votação Liliane Roriz (PSD), Washington Mesquita (PSD), Patrício (PT) e Joe Valle (PSB). O texto final está no Palácio do Buriti para sanção.

Caso o governador do DF, Agnelo Queiroz, não vete o artigo terceiro, a lei abrirá precedente aos órgãos locais, que poderão solicitar a compra de carros para subsecretários, gerentes, diretores etc.


Questionado, o presidente da Câmara disse que, atualmente, existe estudo apenas para verificar a real necessidade e fazer a cotação de preços. "Apesar de a 2ª Secretaria ser a responsável pelas compras, essa decisão é da Mesa Diretora.

Como presidente, vou tomar todas as medidas para que a Casa tenha a infraestrutura necessária para atender cada vez melhor a população", diz Patrício.

Ele também afirma que não haverá compra de um carro para cada deputado. "Precisamos dotar a estrutura administrativa, composta pela Mesa Diretora e pelas comissões permanentes, de condições para executar melhor suas atribuições", defende.


Restrição anulada

Na programação de despesas, ficam vedadas:
e) aquisição de veículos de representação, ressalvadas as aquisições para substituição de veículos
com mais de cinco anos de uso para atendimento ao governador, ao
vice-governador, ao presidente da Câmara Legislativa, aos secretários de
Estado, ao procurador-geral, ao presidente, vice-presidente e aos conselheiros
do Tribunal de Contas do Distrito Federal e ao procurador-geral do Ministério Público junto ao TCDF (Lei n.º 4.614, de 12 de agosto de 2011, artigo 25).

Memória - Histórico de gastança

A aquisição de carros para a Câmara Legislativa ocorre em meio a discussões sobre os benefícios concedidos aos deputados. Em 8 de fevereiro, a Mesa Diretora aumentou em 77,77% o valor da verba indenizatória.

O montante passou de R$ 11.250 para R$ 20 mil mensais.

Com isso, os distritais podem torrar R$ 5,76 milhões por ano com divulgação de atividade parlamentar, combustível, consultoria e locação de imóveis e veículos.


O uso desse recurso, no entanto, deverá ser regulado somente neste ano por meio de ato da Mesa Diretora, conforme recomendação do Tribunal de Contas do Distrito Federal.

Doze dias após a notícia de aumento, em meio ao feriado prolongado de carnaval, 17 distritais receberam um crédito extra de R$ 20 mil. A ajuda de custo era prevista em lei desde 1999 e paga em duas parcelas de mesmo valor no início (fevereiro) e no fim do ano (dezembro).

A benesse foi anunciada pelo Correio.

A opinião pública cobrou o fim dos chamados 14º e 15º salários. Acuados, eles colocaram o tema em pauta no dia 28 e aprovaram, por unanimidade, o fim do benefício.


O Correio também denunciou que distritais, assim como senadores, não colocavam o recurso como renda tributada no Imposto de Renda, ou seja, não pagavam imposto sobre os extras. A Receita Federal começou a investigar o caso e cobrou explicações dos órgãos.

A Câmara foi notificada na última semana.
Segundo a Assessoria da Casa, os deputados pararam de pagar os tributos em 2004, devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal que permitiria a prática.

RICARDO TAFFNER Correio Braziliense

SUJO E MISERÁVEL! SENADO, LITERALMENTE, UM COVIL : SENADORES EMPREGAM FANTASMAS E ATÉ CASSADOS

Mesmo depois da crise de 2009, quando descobriu-se que atos secretos nomeavam parentes e funcionários-fantasmas em seus gabinetes, senadores não perderam o hábito do empreguismo. Pelo contrário.

Usam a estrutura da Casa para acomodar profissionais com atividades particulares, mas que recebem dinheiro público - ou que respondem a processos por mau uso de recursos do contribuinte.

Levantamento realizado pelo GLOBO com base no Quadro de Servidores Efetivos e Comissionados demonstra que dos 81 senadores, pelo menos 25 (30%) abrigam em seus escritórios em Brasília ou nos estados desde estudantes que moram fora do Brasil, até médicos e advogados que passam o dia entre clínicas e tribunais.

Há também casos de aliados que enfrentam denúncias do Ministério Público ou até mesmo foram cassados por compra de votos.

O presidente do DEM, Agripino Maia (RN), pagava até semana passada mais de R$ 4 mil mensais em seu escritório político no Rio Grande do Norte para uma servidora fantasma.

Estudante de Medicina, em vez de trabalhar para o senador em Natal, ela foi fazer um estágio, em agosto de 2011, na Espanha. Gleika de Araújo Maia é sobrinha do deputado João Maia (PR-RN) e do ex-diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, demitido por manter escondidos os atos de nomeações e benefícios de pessoas protegidas pelos senadores.

Depois de procurado pelo GLOBO, o senador demitiu a funcionária.

Já o líder do PMDB, Renan Calheiros (PMDB-AL), após renunciar à Presidência do Senado por causa de acusações de que teria recebido dinheiro de um lobista, mantém velhos conhecidos em seu gabinete.

Em 2011, resolveu chamar para trabalhar no escritório regional a fisioterapeuta Patrícia de Moraes Souza Muniz Falcão.

De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes), do SUS, ela atua em duas clínicas, uma delas o Instituto Graça Calheiros, por 40 horas semanais. Renan disse não saber.

O peemedebista não abre mão da mulher de seu primo, o empresário Tito Uchôa, sócio do filho do senador, o deputado Renan Calheiros Filho, no Sistema Costa Dourada de Difusão. Vânia Lins Uchôa Lopes teve de deixar um cargo na presidência do Senado, em 2009, acusada de ser funcionária-fantasma.

Em 9 de novembro de 2009, ela foi recontratada e até hoje é paga pelo Senado.

No Rio Grande do Norte, o senador Paulo Davim (PV) paga R$ 8,1 mil para a cardiologista Carla Karini de Andrade Costa, sua sócia em uma clínica no estado. Segundo dados do Ministério da Saúde, ela cumpre 50 horas semanais de trabalho no exercício da Medicina.

A assessoria de Davim sustenta que 80% dos pronunciamentos do senador na tribuna do plenário versam sobre saúde. E ela seria a consultora técnica.

"Tudo é tolerado até que vire escândalo"

Além desses casos, nos quais senadores se valem da resolução do Senado criada em 2010 para regulamentar o horário flexível de trabalho, há os parlamentares que não se importam com o passado de seus funcionários de confiança.

O ex-governador do Piauí, senador Wellington Dias (PT-PI), emprega em seu escritório no estado o ex-prefeito de São Pedro do Piauí, Higino Barbosa Filho, cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral em 3 de novembro de 2009 por abuso de poder econômico e captação irregular de votos.

Ele responde a três ações por improbidade administrativa. Wellington alegou que o processo não transitou em julgado - embora Higino tenha sido afastado do mandato por decisão judicial.

O senador Ivo Cassol (PP-RO) patrocina uma ilegalidade. O jornalista Francisco Sued de Brito Pinheiro Filho, nomeado como assistente parlamentar em 1 de dezembro do ano passado, ganhou outro cargo público, na Assembleia Legislativa de Rondônia.

Em 1 de fevereiro deste ano, ele foi nomeado para trabalhar no gabinete da presidência da Assembleia. Embora o acúmulo de função pública seja proibido por lei, Sued continua a receber pelo Senado e pela Assembleia. A assessoria do senador disse, há 10 dias, que Cassol já havia identificado o problema e mandara demitir o funcionário.

No entanto, até sexta-feira ele continuava como servidor federal, de acordo com o Quadro de Servidores Efetivos e Comissionados do Senado.

Cassol emprega Carlos Alberto Canosa, seu ex-secretário de Assuntos Estratégicos quando foi governador de Rondônia. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) pediu abertura de investigação contra Canosa por irregularidades em contrato de R$ 15 milhões para publicidade do governo.

Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) mantém entre seus funcionários Sani Jair Garay Naiamayer. Em dezembro de 2008, a Justiça do Trabalho anulou uma sentença em que o filho de Sani, Cláudio Márcio Almeida Naimaier, havia ganho direitos trabalhistas em uma ação indenizatória contra o pai.

O Ministério Público do Trabalho comprovou que a ação foi fraudulenta porque a fazenda Nova Querência, de Sani, sofria duas execuções financeiras da Fazenda Pública do Tocantins, além de duas hipotecas em favor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A senadora emprega Abdon Mendes Ferreira, condenado pelo TCE a devolver R$ 123 mil aos cofres públicos de Crixás por gasto irregular com alimentação, hospedagem e obras.

Cientista político da Universidade de Brasília, Ricardo Caldas disse que a presença de fantasmas e condenados por desvio de dinheiro público faz parte da cultura política do país, que ainda se pauta pela troca de favores.

- Ou você acredita que o senador não está retribuindo um favor? O sistema tende a acobertar até mesmo delitos de outros políticos. Tudo é tolerado até que vire escândalo. Tudo pode ser feito, se não for divulgado.

O Globo