"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 17, 2012

brasil maravilha "TEMULENTO" E MAMBEMBE : PIB no teto; Brasil na lanterna

A economia brasileira voltou a seu cercadinho habitual no ano passado. O crescimento do PIB ficou abaixo até das previsões mais pessimistas e foi quase dois terços menor do que em 2010.
No primeiro ano de Dilma Rousseff, o Brasil voltou a segurar a lanterninha.


O Banco Central divulgou ontem seu número final para o PIB de 2011. Deu 2,79%, para desespero do Planalto. O dado oficial, calculado pelo IBGE, só sai em 6 de março, mas o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) tem funcionado como prévia bastante aderente.

Variação, se houver, será mínima.


Se confirmado o crescimento da população brasileira de 1%, como prevê o IBGE, nossa renda per capita terá crescido apenas 1,77% no ano passado. É muito pouco, por quaisquer ângulos que se olhe: apenas para comparação, a América do Sul deve ter alcançado 4,6% neste indicador em 2011.

O PIB minguado é herança da gastança de Lula para eleger Dilma. Descontrole fiscal, irresponsabilidade orçamentária e crédito em alta jogaram gasolina na inflação no ano eleitoral.

Como preço, foi necessária uma freada em 2011 e o crescimento da economia brasileira despencou de 7,5% para os menos de 3% agora divulgados pelo BC.


Não custa lembrar que o governo Dilma estreara acenando com um horizonte de crescimento de 5% em 2011. Aos poucos, o otimismo foi cedendo, ao mesmo tempo em que doses maiores de juros e restrição no crédito foram esfriando a economia.

Foi o remédio amargo administrado para não deixar que a inflação explodisse. Não que ela já esteja comportada:
em nenhum país sério do mundo, taxas recorrentemente na faixa de 6% ao ano, como tem ocorrido no Brasil, podem ser tidas como normais.


"O país ficou dentro do círculo: se cresce um pouco mais, a inflação sobe; aí o Banco Central tem que subir os juros, que atraem mais capital externo de curto prazo. Isso derruba o dólar, que tem efeitos diretos na capacidade da indústria de sustentar o crescimento. A indústria pede medidas contra o produto importado, mas é ele que ajuda a impedir a alta da inflação. São esses círculos que precisam ser rompidos para que o país cresça de forma sustentada e com inflação sob controle", resume Miriam Leitão, n'O Globo.

Confirmada a previsão do Banco Central, o Brasil terá o terceiro pior desempenho entre as economias da América Latina e Caribe.
Segundo a
Cepal, só superaremos El Salvador, com 1,4%, e Cuba, com 2,5%.

Na outra ponta do ranking, de acordo com a instituição, estarão Panamá (10,5%), Argentina (9%),
Equador (8%),
Peru (7%)
e Chile (6,3%).
Dá até inveja.


Novamente repete-se o que tem sido a tônica da economia brasileira desde os anos Lula:
o país cresce, mas sempre menos do que poderia.

Ao contrário do discurso ufanista do governo petista, o Brasil manteve-se recorrentemente abaixo do seu potencial, sem aproveitar todo o vento de cauda que uma das fases mais excepcionais da economia mundial produziu na história.


Para 2012, a cantilena de promessas e previsões vãs parece se repetir. O governo diz que os investimentos previstos para este ano serão capazes de esquentar a economia, que, por enquanto, ainda está morna.

Mas a mesma ladainha foi desfiada em 2011, sem que as obras federais decolassem. Deu no que deu.


Na virada deste ano, o governo falava em perseguir um crescimento de 5% em 2012. Nas premissas fiscais, como as que usou para fazer os cortes no Orçamento, já se baseou em 4,5% e, agora, começa a admitir coisa pior, bem pior.

"O governo começa a receber indicadores de que a economia brasileira pode ter um resultado menor do que esperado este ano. O temor é de que o crescimento estacione, mais uma vez, em patamar próximo aos 3%", especula a Folha de S.Paulo hoje.

Na realidade, o governo já vai, aos poucos, alinhando-se a outras projeções disponíveis. Em janeiro, o FMI, por exemplo, cortou sua expectativa para o crescimento brasileiro em 2012 para 3%, ante 3,6% previstos em setembro passado.

Pelo Boletim Focus, do BC, não serão mais que 3,3%.
Se for como em 2011, mais à frente tudo pode ficar ainda mais nublado...
Quem sabe, neste ano, o governo não erre tanto.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela
PIB no teto; Brasil na lanterna

QUEM NÃO TE CONHECE QUE TE COMPRE - MODUS OPERANDI : Alvo errado no bloqueio orçamentário


O corte de R$ 55 bilhões nas despesas do Orçamento de 2012 errou o alvo. Anunciado na quarta-feira pela equipe econômica, o bloqueio prevê perda de R$ 7,4 bilhões em gastos da saúde e da educação.

A primeira sofreu prejuízo maior — nada menos de R$ 5,473 bilhões.


Vista com frieza, a medida tem um quê de demagógica. Mais de um terço do total (R$ 20 bilhões) se refere a despesas obrigatórias. Não pode, pois, ser contingenciado. A tesoura atinge, efetivamente, R$ 35 bilhões.

Desse montante, R$ 25 bilhões destinavam-se a investimentos — R$ 20,3 bilhões por emendas parlamentares.


Programas considerados essenciais para manter a economia aquecida foram poupados da tesoura meio cega. É o caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa Minha Vida e do Brasil Sem Miséria.

Frustrou-se a expectativa de que a mão pesada do Estado caísse sobre gastos de custeio. Só R$ 10 bilhões receberam tal destino.


A timidez decepciona, mas não surpreende. Confirma, mais uma vez, a determinação governamental de manter a máquina burocrática obesa, lenta e ineficiente.

Uma administração com 38 ministérios, cujo nome dos titulares talvez nem a presidente conheça, joga para as calendas gregas a esperança de um dia ingressar na modernidade.


Modernidade que se distancia ainda mais com o golpe desferido na educação e na saúde. Exames nacionais e estrangeiros, como o Pisa e o Enem, retratam realidade que, além de nos constranger e humilhar, demonstram crescente apartheid social. Ano após ano, os alunos do ensino privado se distanciam dos matriculados na escola pública.

Fecha-se, assim, a porta que dá acesso à redução do hiato que separa pobres e ricos desde Mem de Sá. No mundo globalizado e competitivo, o conhecimento de qualidade constitui a moeda mais valiosa que circula pelos cinco continentes.

Ora, a educação ruim, que as avós de antigamente chamavam de primário malfeito, barra o acesso aos bons empregos e aos bons salários.

Em suma:
quem nasceu tostão pode sonhar chegar ao milhão.
Mas o sonho não passará do sonho.


A saúde não fica atrás.
O corte em área nevrálgica, que tem roubado vidas precoces e inutilizado trabalhadores em plena idade produtiva, faz duvidar da seriedade da iniciativa. Há pouco o governo falava na ressurreição da CPMF para robustecer o orçamento do setor.

Agora sente-se à vontade de bloquear quase R$ 5,5 bilhões. Espera-se, ante tão gritante incoerência, que caia na real e faça o que deve ser feito — gastar bem e melhor.

Correio Braziliense

O "ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO" DO CACHACEIRO E COM CONTINUAÇÃO DE SUA MAMULENGA : País em marcha lenta. É O brasil maravilha.

O Brasil cresceu no ano passado abaixo das expectativas, tanto do governo como do mercado financeiro.

Depois da comemorada alta de 7,5%, em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) expandiu-se apenas 2,79% em 2011, segundo a prévia estimada pelo Banco Central (BC) divulgada ontem.

O resultado oficial será anunciado pelo IBGE no início de março.

No mercado financeiro, as apostas eram de crescimento de 2,84%. O BC esperava um pouco mais:
3%. Os analistas consideram que a crise financeira internacional freou demais a economia e isso pesou no resultado do ano.

O mesmo índice em 2010 ficou em 7,6%, e o número oficial fora de 7,5%


Com essa taxa, o país teria crescido aquém da sua capacidade. O efeito positivo é que isso reduz a pressão sobre a inflação e abre espaço para uma queda maior dos juros. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, faz coro com os que apostam que o número oficial poderá ser maior.

- O PIB (em 2011) deverá ficar em torno de 3%, um pouco mais, um pouco menos. Mas o importante é a trajetória e esse PIB está ficando para trás. Já estamos caminhando para um número maior em 2012 -disse Mantega, prevendo crescimento de 4,5% com a contribuição dos cortes de gastos feitos pelo governo.

Para ele, o indicador demonstra que nos últimos meses de 2011 houve uma aceleração da economia, depois da desaceleração ocorrida em setembro e outubro devido aos efeitos da crise internacional no país:

- ( Houve crescimento) Inclusive para a indústria, que mais acelerou em novembro e dezembro, mostrando que o setor que estava com dificuldades econômicas (agora) está na rota da recuperação.

Analistas revisam projeções para o PIB

O BC estima que a economia cresceu 0,57% somente em dezembro. E isso permitiu que o trimestre fechasse no azul em 0,28%, depois de dois desempenhos negativos seguidos. Nos número oficiais, não houve queda na atividade.

No terceiro trimestre, a economia estagnou. O índice fez analistas revisarem suas estimativas para o ano passado e para 2012.


Para o economista Eduardo Velho, da Prosper, o crescimento oficial de 2011 não deve ultrapassar 2,9%. A previsão anterior era 3%. Velho lembra que nos últimos resultados há uma pequena diferença entre os números do BC e do IBGE.

Mesmo com essa diferença, crescer neste patamar mais baixo reforça a perspectiva de queda dos juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).


- O resultado está em linha com o que o BC tem sinalizado: o país está crescendo menos do que tem capacidade ou seja, é possível cortar juros, sem dar combustível para a inflação - disse o economista.

Já a equipe do Itaú manteve a previsão de crescimento de 3,2% em 2011, sendo 0,3% em dezembro. Os economistas estimam uma queda de 0,5% no PIB industrial no quarto trimestre em razaão da desaceleração mais acentuada do que o esperado no consumo. O quadro geral deve mudar devido ao vigor do setor de serviços.

- Esperamos que, após dois trimestres de contração, a atividade de produção retome o crescimento no primeiro trimestre de 2012 - disse o economista Aurélio Bicalho, do Itaú.

PIB per capita deve ter crescido 1,77%

Segundo cálculos do professor da Trevisan, Alcides Leite, se confirmado o crescimento da população de 1% no ano passado, como prevê o IBGE, o aumento das riquezas do país por habitante, a chamada renda per capita, deve ter crescido 1,77%.

Na opinião do acadêmico, é um desempenho baixo e a crise não pode levar toda a culpa. Ele atribui o resultado à necessidade de corrigir os excessos de 2010 - quando o país cresceu acima da sua capacidade e isso gerou inflação, que teve de ser combatida com alta dos juros.

- Para poder crescer mais, é preciso fazer investimentos. Se quisermos ter um crescimento de 5% por vários anos, é preciso aumentar a taxa de investimento de 19% do PIB para 25%: esse é o principal fator limitante - destaca.

Segundo Mantega, o crescimento do país em 2012 será ajudado pela desaceleração da inflação, o que possibilitará ao BC fazer uma política monetária "mais flexível".

Gabriela Valente, Catarina Alencastro e Luiza Damé O Globo

Petrobras: fantasia e realidade

No artigo aqui publicado em 3/2, tratei das dificuldades que a Petrobras vem enfrentando, para cumprir a parte que lhe cabe no problemático modelo de exploração do pré-sal.

Embora o artigo defendesse os melhores interesses da empresa, a Petrobras queixou-se, em carta ao jornal, de que a argumentação continha equívocos e fatos distorcidos, além de "viés negativo".

Como de hábito, o artigo foi também publicado no "Estadão".
Mas, curiosamente, a carta, publicada em 7/2, só foi enviada ao GLOBO.


O que dizia o artigo?
Que a Petrobras está sobrecarregada pela tríplice exigência que lhe foi imposta no modelo:
(a) manter o monopólio da operação dos campos do pré-sal;
(b) ter participação de pelo menos 30% em cada consórcio que vier a explorar tais campos;
e (c) levar adiante a "missão" de desenvolver a indústria de
equipamentos para o setor petrolífero no país.
E que essa última "missão", em particular, vem impondo enorme e indefensável ônus à empresa.


Na carta, a Petrobras passa ao largo do ponto principal do artigo e faz três alegações.

A primeira é que o artigo "estabelecia confusão", ao relacionar a "política industrial de desenvolvimento da cadeia fornecedora do segmento de petróleo", mera "prerrogativa do governo", com a "oportunidade", concedida à empresa, de desempenhar papel tão proeminente no pré-sal.

Não há confusão alguma.
Quem melhor vinculou uma coisa à outra foi a própria Petrobras.

Basta consultar, por exemplo, a imperdível entrevista publicada no "Estadão" de 9/9/2009, na qual o então diretor de Exploração e Produção da empresa explicava a lógica do modelo que ajudara a conceber (disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,fornecedor-dita-ritmo-de-exploracao-do-pre-sal,431581,0.htm).

A intenção, com todas as letras, era assegurar escala suficientemente grande à operação da Petrobras no pré-sal, para que ela pudesse levar adiante a "missão" de desenvolver a produção nacional de equipamentos.

"Se uma empresa tiver de colocar duas, três plataformas, é uma coisa. Se tiver de pôr 20, é outra."


A segunda alegação é que não teria fundamento a ideia de que o governo estaria postergando licitações, tendo em vista que leilões para contratos de partilha só poderão ser feitos após decisão do Congresso sobre a questão dos royalties.

Na verdade, tal indefinição não passa de desculpa momentaneamente conveniente. Nada permite supor que, uma vez definida a questão no Congresso, o governo estará pronto a deflagrar a licitação do pré-sal.

É bom ter em conta que, no caso das concessões do pós-sal, que em nada dependem da decisão do Congresso, a última rodada de licitação foi feita em 2008.

Como já deixou mais do que claro a atual presidente da Petrobras, a empresa, por enquanto, não tem interesse em que o governo promova novas licitações, por já dispor de "um cardápio espetacular" de áreas a explorar.


A terceira alegação da carta é preocupante. Refere-se à menção, no artigo, ao fato de ter sido a empresa capitalizada, em 2010, com R$ 75 bilhões de preciosos recursos do Tesouro. A Petrobras viu nessa afirmação um "erro" a ser corrigido.

"A verdade dos fatos: na capitalização da Petrobras, a União aportou títulos da dívida pública. Em sequência, recebeu esses mesmos títulos como pagamento, pela Petrobras, do Contrato de Cessão Onerosa. Portanto, para a União, não houve saída de caixa."


O argumento é de um primitivismo estarrecedor. Pouco importa se houve ou não saída de caixa. A União dispunha de reservas de petróleo que, se tivessem sido licitadas, teriam gerado R$ 75 bilhões ao Tesouro, mais de 2,5 vezes o total de gastos do PAC em 2011.

Recursos públicos que, num país de tantas carências, poderiam ter tido destino incomparavelmente mais nobre. Basta olhar em volta. É lamentável que a Petrobras não consiga entender quão preciosos, de fato, eram os recursos com que foi aquinhoada na capitalização de 2010.

Uma noção clara do uso alternativo que poderiam ter tido ajudaria a Petrobras a ver com outros olhos, por exemplo, os custos do programa de favorecimento à produção local de equipamentos.

Rogério Furquim Werneck O Globo