"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 25, 2012

INDÚSTRIA DA SECA

Infelizmente, o semiárido continua a impulsionar uma indústria de escândalos nos órgãos federais.

O da vez envolve o centenário Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Novamente, um braço do Estado é usado para produzir benefícios privados e dividendos político-partidários. Repete-se lá uma tônica disseminada na gestão petista.

Ontem, O Globo divulgou os resultados de um relatório da Controladoria Geral da União (CGU) apontando prejuízo de R$ 312 milhões na gestão de pessoal e em contratações irregulares feitas pelo órgão, subordinado ao Ministério da Integração Nacional.

"O relatório de 252 páginas revela uma sucessão de pagamentos superfaturados, contratos com preços superestimados e 'inércia' da direção do órgão para sanar irregularidades que prosperaram ao longo da última década", informou o jornal. As contas do Dnocs de 2008, 2009 e 2010 também foram consideradas irregulares.

Repetindo o mesmo vício do ministro da Integração, o chefe do Dnocs também privilegiou um estado em detrimento dos demais na liberação de verbas. Se Fernando Bezerra desequilibrou os repasses em favor de Pernambuco, o diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes, superfaturou os recursos para o Rio Grande do Norte de seu padrinho político, o deputado Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara.

De 47 convênios firmados com municípios para ações de defesa civil, 37 contemplaram prefeituras potiguares, que ficaram com 43% dos recursos liberados. Segundo a Folha de S.Paulo, 20 dessas cidades no RN são administradas pelo PMDB.

A maior parte dos contratos (23) tem irregularidades, envolvendo empresas de fachada, conforme aponta a CGU.Um diretor do Dnocs já caiu e o chefe-geral equilibra-se no cargo.

O noticiário político de hoje diz que os atritos produzidos na área detonaram uma rusga brava entre o PSB do ministro Bezerra e o PMDB dos apadrinhados de órgãos ligados à Integração Nacional - que incluem ainda Sudene e Codevasf, agora também sujeitos ao crivo do escovão.

É de indignar ver comandantes de instituições que deveriam se dedicar a buscar saídas para o semiárido engalfinhando-se em torno de cargos e não de propostas, programas e soluções para problemas que ainda afligem milhões de brasileiros.

O episódio atual não destoa, no entanto, da parca atenção efetiva que a gestão petista tem dado ao Nordeste. Há muita propaganda e oba-oba em torno de feitos supostamente "históricos" para a superação dos atrasos da região, mas a dura realidade difere bem disso.

Obras espetaculares como a transposição do rio São Francisco e a construção da Transnordestina serviram muito bem para abrilhantar os programas de TV da então candidata a presidente da República. Mas até hoje não produziram um benefício efetivo sequer para a população nordestina.

A mais longeva obra inconclusa do Nordeste, a ferrovia foi prometida para o fim do governo Lula.

Hoje apenas 10% de seus 1.728 km estão prontos, mas, mesmo assim, só são utilizados para transportar material para a construção da própria Transnordestina. Se tudo correr bem, com pelo menos quatro anos de atraso a promessa será cumprida.

Outra promessa lulista, a transposição do São Francisco já encareceu 40% e sequer ficará pronta no governo atual. Parte da estrutura já feita, construída às pressas para figurar na campanha eleitoral de Dilma, hoje apodrece sob o sol inclemente. Nenhuma gota d'água chegou ao sertão.

O Nordeste vem apresentando taxas chinesas de crescimento nos últimos anos.

Muito se deve ao empreendedorismo e ao esforço próprio de seu povo.

O governo central pouco ajuda neste processo de superação.
A região quer emancipação e progresso, e não continuar a servir de subterfúgio para que a política miúda siga produzindo escânda
los em série.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

O brasil maravilha da GERENTONA/FRENÉTICA/EXTRAORDINÁRIA 1,99 FAJUTA : Investimento insuficiente. O rombo nas contas externas não para de crescer.

Em 2011, bateu recorde ao alcançar US$ 52,6 bilhões, um volume 11,17% maior que o verificado no ano anterior. Para 2012, as expectativas do Banco Central são ainda piores:
US$ 65 bilhões.

Diferentemente do ano passado, não haverá como cobrir esse buraco.

O Investimento Estrangeiro Direto (IED), que até então registrava cifras superiores às do deficit externo e tapava esse rombo, deve ficar em US$ 50 bilhões no ano — o país será obrigado a buscar no mercado financeiro os US$ 15 bilhões de diferença, um dinheiro considerado altamente volátil e que pode fugir do Brasil caso a crise piore.


"O deficit reflete a falta de poupança doméstica.
O setor público não poupa e as famílias também não. Assim, o país fica obrigado a importar poupança para se financiar", explicou Bruno Lavieri, economista da Tendências Consultoria.


Apenas em dezembro, o deficit nas contas externas foi de US$ 6 bilhões, um buraco 72,76% maior que o registrado em igual mês de 2010.

Parte dessa conta, segundo dados do Banco Central, se deve ao elevado volume de gastos em viagens internacionais, a remessas de lucros por filiais a seus países de origem e a desembolsos pesados no aluguel de equipamentos e fretes de navios.

No ano passado, o setor produtivo brasileiro desembolsou US$ 16,7 bilhões com aluguel de máquinas, o maior montante já registrado pelo BC. Em 2010, esse valor havia sido de US$ 13,7 bilhões.

As despesas com transporte também foram elevadas (US$ 14,1 bilhões), 24,82% mais do que no ano anterior. Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, admite que o rombo nas contas é grande.

"O retrato das contas externas mostrou deficits significativos, o que evidencia maior demanda dos brasileiros por produtos externos", resumiu.

Maciel, entretanto, tentou amenizar o problema. "O deficit é plenamente financiável", disse. Lavieri também considera a situação, por enquanto, controlável.
Para ele, mesmo com o IED sem capacidade de cobrir o buraco, ainda é possível recorrer ao capital especulativo.


Porém, o ingresso de dólares no país por essa via tem sido cada vez menor.
Segundo especialistas, janeiro foi um mês atípico por registrar US$ 6,6 bilhões positivos de saldo líquido, resultado influenciado por capital destinado à bolsa de valores.

"Isso não deve se repetir." (VM)

Sinal de alerta

Apesar dos bons números de 2011, o buraco nas contas externas
dará trabalho neste ano. Faltarão recursos para financiá-lo (Em US$ bilhões)

Transações correntes
2002 -7,6
2003 4,1
2004 11,6
2005 13,9
2006 13,6
2007 1,5
2008 -28,1
2009 -24,3
2010 -47,3
2011 -52,6
2012 -65,0*

*Projeção

Investimento estrangeiro direto
2002 16,5
2003 10,1
2004 18,1
2005 15,0
2006 18,8
2007 34,5
2008 45,0
2009 25,9
2010 48,5
2011 66,6
2012 50,0*

Fonte: Banco Central

Correio Braziliense

O ESTICA E ENCOLHE DO "PARA O BRASIL SEGUIR MUDANDO" DA MAMULENGA E O BUFÃO : Inflação põe o BC em xeque

Os preços dispararam nos primeiros 15 dias do ano e já colocam em xeque a estratégia do Banco Central de continuar reduzindo a taxa básica de juros da economia, hoje em 10,5% ao ano.

A prévia da inflação oficial, o IPCA-15, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio acima do esperado e surpreendeu o mercado.

A variação parcial de janeiro alcançou 0,65%, puxada, sobretudo, por itens como alimentação e transporte, que atingiram em cheio o orçamento das famílias.


"O IPCA-15 fecha, em parte, a janela de oportunidade. Será cada vez mais difícil para o Banco Central cortar juros sem passar para o mercado a mensagem errada, de que irá reagir, aumentando a expectativa (de aumento juros) para frente", disse o economista-chefe da Gradual Investimento, André Perfeito.

Apesar da visão pessimista, Perfeito acredita que ainda é possível esperar por novos cortes na taxa básica (Selic), com os juros caindo a um dígito em 2012.


Avaliação semelhante tem a economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander. A seu ver, apesar da alta dos preços, é preciso levar em conta que a inflação da primeira quinzena de janeiro deste ano veio mais baixa que no mesmo período de 2011, quando chegou a 0,76%.

E mais:
em 12 meses, a trajetória é decadente, como vem alardeando o BC. Por isso, o Santander acredita que serão feitos mais dois cortes de 0,50 ponto percentual na Selic.


Se a previsão do banco espanhol se confirmar, a taxa chegará a 9,50% ao ano. "Ainda não há motivos para o BC mudar o seu cenário e o peso que vem dando à situação mundial, que ainda pode causar um grande efeito deflacionário" observou Tatiana.

O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, tratou de pôr panos quentes sobre o resultado do IPCA-15. Para ele, a alta da inflação é momentânea. "A inflação está caindo de um modo geral e ela tem uma elevação sazonal nesta época do ano", sustentou.


Apesar da ponderação do ministro, não será fácil convencer as famílias de que o aumento nos preços é transitório e que ele não deve refluir lá na frente. Quase 70% dos produtos e serviços pesquisados pelo IBGE apresentaram alta em janeiro. Em dezembro, eles eram 64%.

Os itens que mais subiram neste mês e que pesam no bolso dos consumidores envolvem transportes (0,79%) e alimentos (1,25%). Juntos, esses dois grupos foram responsáveis por 0,44% do aumento geral do IPCA-15 de janeiro.


Estratégia
Em transportes, o que mais subiu foram as passagens aéreas: nada menos que 10,54%. Subiram também as tarifas dos ônibus urbanos e intermunicipais.

Nos alimentos, a alta também foi generalizada e não envolveu apenas produtos agrícolas, como tomate (11,22%),
feijão-carioca (10,42%)
e batata-inglesa (4,29%).
A refeição fora de casa acompanhou o movimento e ficou mais cara, em média, 1,63%.


Nos supermercados, não é difícil perceber que os preços dos produtos estão mais elevados. A saída é adotar algumas medidas preventivas para não estourar o orçamento.

A autonôma Carmem Regina da Silva, 47 anos, por exemplo, costuma pesquisar as ofertas antes mesmo de sair de casa.
Ela vai às compras pelo menos uma vez por semana e gasta, em média, R$ 200. "O preço do feijão está bem alto. Como lá em casa não pode faltar, eu compenso a alta levando outras marcas mais em conta", revelou.


Para economizar, a assessora jurídica Rosângela Menezes adota outra estratégia. Ela diminuiu o número de idas ao supermercado. Até há bem pouco tempo, Rosângela ia às compras toda semana e chegava a gastar R$ 500 por mês.

Agora, vai apenas duas vezes por mês e, com isso, chegou a reduzir os gastos em até R$ 180. "Ainda não é o ideal, mas já aliviou um pouco", observou. Mais radical, o farmacêutico Franciney Barbosa dos Santos foge dos preços altos.

Ele decidiu encher o carrinho só nos dias de promoção. Ainda assim, tem desembolsado R$ 100 acima de sua meta. "Nem com as ofertas consigo gastar menos, pois certos produtos, como feijão, carne e verduras, subiram muito", disse.


Famílias com mais dívidas
Os brasileiros iniciaram o ano endividados. Em janeiro, o número de inadimplentes subiu para 58,8%, frente aos 58,6% de dezembro, interrompendo uma sequência de sete meses de baixa. Mas, na comparação com mesmo período do ano passado, a quantidade de pessoas com dívidas caiu.

Em janeiro de 2011, o índice era de 59,4%.

A pesquisa anual realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) indica ainda que a maior parte dos débitos (72,3%) é contraída por meio do cartão crédito. "As dívidas crescem neste período do ano em razão dos compromissos assumidos com impostos e material escolar", explicou Marianne Hanson, economista da CNC.

Por outro lado, o número de pagamentos em atraso diminuiu para 19,9% neste mês, contra 22,1% em um ano atrás e 21,2% em dezembro.

ANA CAROLINA DINARDO Correio Braziliense