"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 30, 2011

A "TEORIA DO BIQUINI" NOS RESULTADOS FISCAIS DO "GOVERNO" DA MAMULENGA E O BUFÃO : MOSTRAM MUITO, MAS ESCONDEM O ESSENCIAL.(boa)

Talvez não haja definição mais bem humorada de estatística do que a da relação entre os números e o biquíni:
mostram muito, mas escondem o essencial.

Em algum medida, a ironia se aplica aos resultados fiscais do primeiro ano do governo Dilma Rousseff confrontados aos perigos e armadilhas previstos para 2012.

Mesmo que na inflação o máximo alcançado pelo Planalto tenha sido manter o índice ao redor do limite superior da meta (6,5%) - nível preocupante numa economia ainda intoxicada pela indexação -, pode-se considerar razoável o desempenho do governo na economia.

A taxa de crescimento, em torno dos 3%, muito baixa em comparação com os exuberantes 7,1% de 2010, se justifica pela conjuntura mundial e a insustentabilidade daquele ritmo de expansão.

Tentar mantê-lo seria decretar o descontrole da inflação e desequilíbrios sérios nas contas externas.

No campo fiscal, aplica-se a "teoria do biquíni". Pois, se é verdade que o Planalto mais do que acertou no alvo ao conseguir, com um mês de antecedência, atingir o superávit primário estabelecido para o ano (pouco mais de 3% do PIB), a qualidade da poupança feita para abater os juros da dívida continua baixa.

Mais uma vez, repetiu-se a fórmula de se obter o equilíbrio das contas pelo aumento da arrecadação tributária e corte nos investimentos.

Trombeteia-se o alcance de metas no presente, mas se compromete o futuro. O aumento constante da arrecadação leva à elevação do peso da carga tributária - já 36% do PIB, a maior no bloco das economias emergentes - e tira a competitividade da economia.

O problema é tão flagrante que Brasília, diante do risco de impactos recessivos externos, decreta desonerações, porém tópicas, setoriais, sem beneficiar todo o sistema produtivo.

E também porque não quer enfrentar para valer corporações sindicais aliadas atuantes na máquina pública - confrontou este ano, para o Orçamento de 2012, mas, com vistas a 2013, não há otimismo -, o governo, em vez de economizar nos generosos salários do funcionalismo, prefere podar gastos na ampliação e manutenção da precária infraestrutura do país.

Poderia compensar com privatizações, mas, como há preconceito ideológico, mesmo quando é inexorável passar logo adiante a gestão de algum setor - aeroportos -, o processo é lento.

Os números são incontestáveis, imunes à "teoria do biquíni".
Estimam-se as receitas fiscais líquidas deste ano em R$44 bilhões acima do Orçamento, enquanto os investimentos públicos federais, de janeiro a novembro, foram 2,7% aquém dos executados no mesmo período do ano passado.

Corta-se onde não se deve, e aposta-se no arrocho contra o contribuinte.

Já 2012 apresenta uma equação bem mais complexa: a arrecadação muito provavelmente terá fôlego curto, devido aos limites ao crescimento interno determinados pelo mundo.

Nos gastos, há pelo menos uma despesa volumosa inexorável: os R$23 bilhões decorrentes do impacto do aumento do salário mínimo em mais de 14%.

Analistas, em função deste horizonte, consideram de extrema dificuldade - ou impossível - ser atingida a meta de um superávit em 2012 idêntico ao deste ano, em percentual de PIB.

A não ser que entre em ação a "contabilidade criativa", um desastre para a imagem do Brasil.

O melhor é mesmo fechar o cofre, porém ainda mais difícil em ano eleitoral.

O Globo
Incertezas à frente nas contas públicas