"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 03, 2011

Nem sonho nem ética

Está lá o corpo estendido no chão...
A figura de linguagem ilustra bem a situação do ministro do Trabalho. Acusado de uma penca de irregularidades, Carlos Lupi perdeu o timing. Até o momento em que escrevia este artigo, ele jazia na Esplanada.

Devia ter pedido pra sair fazia tempo.
Mas seguia cheirando mal e provocando grande constrangimento ao governo da presidente Dilma.

E não deveria deixar o posto apenas por causa das denúncias da "imprensa golpista":
até mesmo a insuspeita Comissão de Ética da Presidência da República tinha recomendado a saída do pedetista do cargo.

Lembrei-me, então, de outro período até mais constrangedor.
Ocorreu em 2005, época em que Roberto Jefferson denunciou o mensalão.

Naqueles dias, o escândalo era tamanho que o país parava para assistir ao show do deputado fluminense provocando e espicaçando o todo-poderoso José Dirceu, ministro da Casa Civil:
"Ó, Zé. Pede pra sair", ironizava Jefferson.

Assim como Lula, constrangido, não demitia Dirceu, ninguém sabe, agora, por que Dilma demora tanto em varrer Lupi do Planalto.

Outra vez, entro no túnel do tempo. E me lembro de quando participava do movimento estudantil e sonhava com o dia em que viveríamos num mundo mais livre, mais justo, mais ético.

Aí sempre vem um grande desânimo e me pergunto:
o que testemunhamos hoje é mesmo o fim do socialismo?
Toda a utopia, os sonhos e as lutas da juventude por um mundo em que imperasse a liberdade, a fraternidade, a ética e a justiça foram para o saco?
O caminho da esquerda será sempre uma ditadura tão vil quanto as de direita?
Não há saída fora do capitalismo nu e cru tal o conhecemos?

Quando vejo aposentados perdendo direitos e qualidade de vida na Europa, fico ainda mais assustado. Que mundo é este? Que futuro nos espera?
O realismo dessa revolução pela corrupção que pseudoesquerdistas querem impor no Brasil?

É triste constatar que estamos cada vez mais distantes de um planeta livre de tiranias, fanatismos, intolerância. O sonho de uma sociedade empenhada em garantir qualidade de vida a todos os cidadãos parece ter sido varrido da órbita terrestre.

Plácido Fernandes Vieira

O BUFÃO, O "NOVO-RICO" E O FMI.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitou a visita da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, para mais um comentário digno de um novo-rico emergente:
"É uma satisfação que desta vez o FMI não tenha vindo para dar dinheiro ao Brasil, mas para pedir dinheiro".

Ele fez o comentário no fim de uma entrevista coletiva, em Brasília, ao lado da visitante. Ela já estava sem o fone usado para ouvir a tradução simultânea e talvez não tenha notado as palavras de seu anfitrião. Se notou, preferiu silenciar.

A possível participação brasileira no reforço de caixa do FMI foi discutida nas conversas da diretora-gerente com o ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e a presidente Dilma Rousseff. Não houve notícia oficial sobre o assunto, mas o governo, segundo fontes qualificadas, estuda uma contribuição na faixa de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões.


O Brasil se comprometeu recentemente com o esquema de captação de recursos conhecido como New Arrangements to Borrow (NAB), criado depois da crise mexicana de 1995. Por esse esquema, o FMI fica autorizado, em situações de emergência, a sacar determinados valores dos países contribuintes - um acerto parecido com o dos cheques especiais.

Formado inicialmente por poucos países, na maior parte desenvolvidos, o grupo foi ampliado a partir de negociações iniciadas em 2009 e hoje inclui 40 participantes.
Só uma vez o esquema foi acionado para socorrer um país - o Brasil, em 1998.

Participar de arranjos desse tipo é geralmente um sinal de maturidade financeira.
Países capazes de assumir responsabilidades e papéis importantes na vida internacional normalmente o fazem sem bravatas e sem exibicionismo.

Bem antes do Brasil, o Chile integrou o NAB, por meio de seu banco central, e seu governo jamais alardeou isso.


As autoridades da China e da Rússia, habituadas há muito mais tempo a posições importantes - e com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas -, são em geral discretas e não costumam chamar a atenção para a sua importância.

Além disso, russos e chineses normalmente agem e negociam invocando em primeiro lugar seus interesses nacionais. Muito raramente falam em nome dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e é ainda menos frequente aparecerem como porta-bandeiras dos emergentes ou das economias em desenvolvimento.

Autoridades chinesas, indianas e russas não costumam aparecer no noticiário condicionando esta ou aquela ação a consultas prévias a seus parceiros de acrônimo - porque os Bric são, antes de tudo, um acrônimo e muito raramente agem como bloco.

O ministro Guido Mantega, no entanto, costuma agir como se os quatro países - ou cinco, se a agregação da África do Sul for levada a sério - tivessem muitos interesses comuns e formassem uma frente unida nos grandes foros internacionais. Por isso, segundo o ministro, a contribuição brasileira só será definida depois de uma confabulação do grupo.

Com isso, o governo brasileiro mostra-se incapaz de resolver por si se o País é suficientemente importante para assumir um papel de mais peso no combate a uma das maiores crises de todos os tempos. Mostra-se incapaz, igualmente, de expor suas condições para participar.

Mas os membros do Bric têm obviamente poucos objetivos comuns, como comprova - entre muitos outros fatos - a insistência chinesa em manter sua moeda subvalorizada.

Além disso, o governo chinês aliou-se ao americano para impedir a inclusão de um debate sobre o câmbio na próxima reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio. O Brasil havia proposto o tema.

Lagarde conhece as enormes diferenças entre os interesses dos Bric, mas não comenta a posição brasileira. Prefere elogiar a política do governo e apontar o País como um dos mais preparados para enfrentar a crise, por suas condições fiscais, pela solidez de seu sistema financeiro e pelo volume de reservas.
Também não faz bravatas.


O objetivo do FMI, disse ela em São Paulo, é obter resultados e não visibilidade. Por isso, explicou, boa parte de seu trabalho é feita nos bastidores. Isso inclui as negociações com os europeus.

O Estado de S.Paulo

LABIRINTO! ATIVIDADE ECONÔMICA NO "GOVERNO" : Ziguezague

O pacote de incentivos anunciado em (01/12) pelo governo coroa um ano em que a tônica da política econômica petista foi de ziguezague.

O país começou 2011 acelerado, viu a inflação decolar, puxou o freio de mão em seguida e reage agora a um resfriamento que começa a se generalizar no setor produtivo. Fomos do ápice ao vale sem saber ao certo aonde se quer chegar.

Tudo em excesso e descalibrado.


As medidas divulgadas ontem representam renúncia fiscal de R$ 7,6 bilhões. Em termos monetários, equivalem um terço da desoneração feita em 2009, no auge (pelo menos até agora) da crise econômica mundial.

O objetivo é incentivar o brasileiro a consumir, receita idêntica à adotada por Lula naquela ocasião. Dará certo agora, num cenário diferente?


O governo teme que, assim como ocorreu em 2009, a economia mergulhe no ano que vem. Neste ano, o crescimento já será, na melhor das hipóteses, igual a apenas metade do que foi em 2010.

No terceiro trimestre, o PIB cresceu no máximo zero ou pode mesmo ter caído - os números oficiais do IBGE sairão na semana que vem.


O pacote inclui redução de imposto para bens de consumo duráveis,
como geladeiras e fogões;
diminuição de IOF sobre operações financeiras;
desoneração de massas e trigo;
e aumento do limite de financiamento para moradias,
no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida.


Junta, pois, alhos com bugalhos.
Para impulsionar a produção brasileira como um todo, nada.


O ministro da Fazenda sintetizou numa frase que pretendia ser de efeito os resultados que busca com suas medidas:
"Você compra uma casa mais barata, um fogão novo e cozinha a massa desonerada de PIS/Cofins.O consumidor brasileiro pode ficar tranquilo, seu emprego está assegurado".

Vê-se como é de longo prazo a visão de Guido Mantega...


Ontem, houve duas reações imediatas às novas medidas:
redução de preços por parte de varejistas e aumento dos juros projetados pelo mercado financeiro.

A leitura que se faz é de que, ao estimular o consumo, o governo tira o espaço da política monetária e, assim, perde a oportunidade de cortar a taxa de juros com mais força, como mostra o Valor Econômico.


Os efeitos mais prováveis das medidas, segundo boa parte dos analistas ouvidos pela imprensa, será a mera antecipação de consumo futuro.

O consumidor corre para aproveitar o imposto menor e leva um fogãozinho novo para casa.

Benefícios duradouros para a economia como um todo?
Nem pensar.


Os estímulos são dirigidos muito mais ao consumo do que ao investimento produtivo.

Nenhuma providência séria para estimular o investimento, a inovação e o ganho de competitividade foi tomada, opina O Estado de S.Paulo em editorial, que classifica o pacote como "medíocre".

Como é praxe na gestão do PT, as medidas atuam sobre setores produtivos muito específicos - aliás, os beneficiados de sempre.

"O que mais chama a atenção nesse tipo de estratégia é o caráter discricionário das medidas. O governo escolhe os vencedores. Determina quem se beneficia", comenta José Júlio Senna no
Estadão.

Quem se sai melhor, como sempre, são os setores mais bem organizados e que se mobilizam com maior desenvoltura.


Terminando o primeiro ano da gestão Dilma Rousseff, não se viu até agora um plano estruturado e abrangente capaz de fazer a economia brasileira avançar com persistência.

Continuamos indo aos sobressaltos:
ora é preciso acelerar, ora frear. É como se estivéssemos num carro desgovernado. "O capital político do início do mandato foi queimado sem que se soubesse qual é o projeto do governo", sintetiza Míriam Leitão n'O Globo.


A percepção atual é de que as medidas tomadas no primeiro semestre para segurar a inflação foram fortes em excesso. A economia congelou.

Agora fica a dúvida se os estímulos monetários, de crédito e fiscais que estão sendo ora retomados não colaborarão para manter atiçada a fogueira dos preços - que ninguém é capaz, nesta altura, de garantir que esteja sob controle.


Com as medidas anunciadas ontem de afogadilho, o governo pode até ter conseguido um respiro para os próximos dias ou semanas.

Mas continua sem garantir instrumentos robustos e capazes de sustentar a atividade econômica por tempo mais prolongado.


O curto prazo continua sendo o máximo de horizonte que a gestão petista nos oferece.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela