"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 30, 2011

O BUFÃO E A TUNGA PASSADA


Quando lançou o plano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que os empresários ganhariam um crédito de 3% sobre sua receita de exportação.

No dia seguinte, o texto da MP 540 trouxe a informação de que o incentivo iria variar de zero a 3% e a Receita anunciou que, para ter direito ao benefício, o produto exportado precisará ter um percentual mínimo de partes e peças fabricadas no Brasil.

Tunga futura

Lançado em agosto com pompa pelo governo, o Plano Brasil Maior corre o risco de ficar menor. A Receita Federal não cogita assegurar às empresas exportadoras de manufaturados os benefícios do programa Reintegra retroativos ao começo da vigência da medida provisória (MP) 540.

Se prevalecer a posição do Ministério da Fazenda, o crédito de até 3% sobre a receita de exportação dessas empresas só valerá a partir de dezembro, prazo limite para a MP ser aprovada pelo Congresso.
Juros e dívida

Um dos argumentos usados por defensores da redução imediata da Selic, frente aos riscos de estagnação da economia global, é que a queda da taxa básica de juros tem um efeito colateral importante, que seria a redução dos gastos do governo com a dívida pública na mesma proporção.

Um primeiro olhar pode levar a essa conclusão, mas não é o que acontece na prática. Já faz algum tempo que os custos da dívida e a Taxa Selic estão descolados.

O governo alterou substancialmente o perfil da dívida pública nos últimos anos, trocando os títulos indexados à Selic por outros papéis de longo prazo prefixados ou vinculados a índices de preço.

O economista Fábio Giambiagi observa que a maioria das pessoas se acostumou a raciocinar como se a Selic fosse sinônimo de custo da dívida interna, o que já foi verdade, mas não é mais.

Assim, o impacto da política monetária na despesa total de juros hoje é bem diferente do peso que tinha no passado.

Giambiagi lembra que, em 2006, por exemplo, ainda havia uma relação direta entre as duas coisas. O custo anual das LFTs, títulos atrelados à taxa básica de juros, foi de 15,4%, enquanto o custo médio da dívida pública mobiliária federal em poder do público foi de 14,8%.


Já em 2010, a Selic caiu para 9,8%, mas o custo da dívida recuou muito menos, para 11,8%.
- Mesmo que a Selic caia para 9% ao ano, o custo da dívida pública não acompanhará essa queda, especialmente se a inflação não ceder tanto e isso contaminar os títulos indexadas ao IPCA - observa Giambiagi.

O economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, comparou os gastos com juros do governo, o custo médio da dívida líquida do setor público e a evolução da Taxa Selic, desde 2003 até agosto passado.


E os números reforçam esse descolamento entre a taxa básica de juros e o custo da dívida pública. Em janeiro de 2003, a taxa básica estava em 25,5%, os gastos com juros equivaliam a 8,22 pontos percentuais do PIB e o custo médio da dívida era de 16,53%.

Em agosto passado, a Selic havia caído pela metade, para 12,5%, mas o custo médio da dívida aumentou para 16,71% e os gastos com juros caíram um pouco em relação ao registrado oito anos antes, para 5,82 pontos do PIB, mas não na mesma proporção da queda da taxa básica.

Regina Alvarez/O Globo

E NO BRASIL MARAVILHA DOS TORPES E DA GERENTONA FRENÉTICA DE NADA E COISA NENHUMA ... Na melhor fase do ano, a piora do emprego

O último quadrimestre de cada ano é o período em que as indústrias produzem para o Natal e contratam pessoal temporário, que consome mais e, assim, estimula o comércio, que abre novas vagas.

Mas não foi o que ocorreu em setembro, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE:
houve apenas estabilidade do emprego nas seis principais regiões metropolitanas, ao lado de uma surpreendente queda do salário dos trabalhadores empregados.

Pode ser apenas um soluço, segundo avaliações do IBGE, pois até agosto o comportamento da PME era favorável. Mas consultorias e departamentos econômicos privados, como a LCA e o Bradesco, identificam uma piora nas condições do mercado de trabalho, que já se evidenciava em levantamento anterior do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, revelando a queda do ritmo das contratações.

A taxa de desocupação de setembro, de 6%, foi a menor desde 2002, segundo a PME, mas maior do que a prevista (5,8%) pelos analistas privados.

Em relação a setembro de 2010, o crescimento da ocupação foi de 1,6%, mas caiu em relação aos 2,2% de agosto.

Nesses dois meses, a população economicamente ativa foi a mesma, o que evita o risco de distorções na comparação. Levando em conta a sazonalidade, a taxa de desemprego foi de 6,22%, em setembro.

O aspecto mais negativo foi a queda do rendimento médio habitual de 1,8%, entre agosto (R$ 1.637,26) e mês passado (R$ 1.607,60).

Segundo o IBGE, indústria e comércio dispensaram 109 mil trabalhadores em setembro - e isso ajuda a explicar a queda da renda.
Mas o motivo principal é o impacto da inflação sobre os rendimentos dos trabalhadores.

No Rio, região mais afetada, a desocupação aumentou de 5,1% para 5,7%, mas declinou em São Paulo, em Porto Alegre e no Recife. Em Salvador, a desocupação foi a mais alta do País (9%), mas, nessa capital, os rendimentos médios aumentaram entre agosto e setembro.

Na indústria, a mais afetada pela desaceleração da economia, o rendimento médio caiu 1,5%.
A queda chegou ao setor de serviços, que mantinha um ritmo forte.
Entre agosto e setembro, o rendimento médio habitual nos itens educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social caiu 5,2%.

Mesmo nos serviços ligados à área de imóveis houve uma queda de 1,8%, no mês, e de 5,4%, no ano.

A recuperação, se ocorrer, ficará para 2012, sem que se saiba se o aumento do salário mínimo será positivo ou negativo, do ponto de vista do emprego.

O Estado de S.Paulo

Previsões para o PIB brasileiro continuam a cair.


As expectativas de crescimento da economia brasileira em 2011 e 2012 vêm despencando ao longo dos últimos meses.

Já há instituições que preveem que o PIB fique praticamente parado neste segundo semestre e cresça apenas 3%, ou até menos, em 2012.


As causas da desaceleração brusca são as medidas de contenção monetárias, creditícias e fiscais tomadas pelo governo e a forte piora da economia internacional, especialmente dos países ricos, com o agravamento da crise europeia.

"O componente extra que surpreendeu foi o cenário externo", diz Flávio Samara, economista da consultoria LCA, que prevê crescimento de 3% em 2011 e de 3,3% em 2012.

No início de 2011, a mediana (o número mais frequente) das projeções do mercado para o PIB de 2011 e 2012 era de 4,5%, para ambos os anos. Na última rodada de coleta de expectativas pelo Banco Central (BC), de 21 de outubro, as previsões já tinham caído para 3,3% e 3,51%.

Esses últimos números possivelmente ainda não refletem o fundo do poço das projeções, cuja tendência inequívoca tem sido de queda, tanto para este ano quanto para o próximo, ao longo de todo o segundo semestre.

A gestora JGP, por exemplo, prevê crescimento de 3,1% em 2011, e de apenas 2,5% em 2012. "Para o ano que vem, pesa muito na nossa projeção o cenário lá fora, com crescimento muito baixo na Europa e nos Estados Unidos", diz o economista Fernando Rocha, sócio da JGP.

A gestora prevê crescimento zero no terceiro trimestre de 2011, e de apenas 0,5% no último trimestre - o que resulta numa economia quase parada no segundo semestre.

Coincidentemente, é a mesma projeção para o terceiro e quarto trimestres do banco de investimentos J. Safra, que projeta 3% de crescimento em 2011, e 3,3% em 2012.

O HSBC Brasil vai calibrar para baixo, mais uma vez, a previsão para 2011, que iniciou o ano em 5,1% e já caiu para 3,5%.

Mas o economista Constatin Jancso ainda considera a decisão de corte de juros adotada a partir de agosto pelo BC como uma aposta arriscada, mesmo que se revele acertada a posteriori.

"Por enquanto, representa uma aposta num cenário que no fundo ainda não se materializou", comenta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.