"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 25, 2011

PARA DISSIMULAR : DESVIO/CORRUPÇÃO/TRÁFICO DE INFLUÊNCIA/SUBORNO... COMPRA A CACHAÇA E CHAMA O "HOMEM".


Demorou, mas o PT acionou ontem sua velha estratégia de guerra: posar de vítima quando acusado. E fez isso não por meio de um qualquer, mas na pessoa de seu principal líder, o ex-presidente Lula.
A atitude desnuda o temor gigantesco em esclarecer, de uma vez por todas, as atividades da empresa de "consultoria" de Antonio Palocci.

O PT acusa a oposição de insuflar a crise em torno do ministro, mas são os próprios petistas que têm se ocupado em jogar gasolina no fogo. A semana começou sem novidades retumbantes sobre o enriquecimento faraônico de Palocci, mas o governo deu de ombros e acelerou: ligou trator, rolo compressor, retroescavadeira e o que mais tivesse para atropelar os oposicionistas.

Anteontem escalou ministros e governadores, além da tropa de choque de sempre no Congresso. Deve ter achado pouco e ontem dobrou a aposta. Chamou Lula e acionou Gilberto Carvalho para fazer acusações infames na velha tática do batedor de carteiras: furta e sai gritando "pega ladrão".

Conclusão lógica: só quem deve muito, teme tanto.

O governo está tentando, como sempre, turvar a compreensão do caso. Conhecido - e reconhecido - o enriquecimento do ministro, inventa agora a hipótese de que informações fiscais tenham vindo a público por meio de quebra de sigilo na prefeitura de São Paulo.

De acusado, faz-se de vítima. Inverte as responsabilidades, numa tática que é recorrente no PT.

"Com esse estratagema, o governo pretende, também, transferir a crise, gerada por suspeitas acerca do aumento patrimonial de Palocci, para uma disputa no campo da política, entre governo e oposição. Na análise de governistas, isso contornaria a necessidade de explicações mais profundas do que aquelas que Palocci vai prestar à Procuradoria-Geral da República", observa o Valor Econômico.

Os jornais mostram que o ex-presidente saiu a campo para "assumir a articulação política do Planalto" e "pedir unidade" aos petistas. Mandou sua turma ir para o "ataque", no relato d'O Globo.

Evidente que só se assume articulação daquilo que não tem comando; só se pede unidade quando ela não existe; só ordena ataque quem se sente acuado.

Antonio Palocci não tem a seu favor o benefício da dúvida. Sua experiência pública pregressa o desabona, como fica mais uma vez claro hoje com a revelação, feita pela Folha de S.Paulo, de que o responsável pela violação do sigilo de Francenildo dos Santos Costa em 2006 foi efetivamente o gabinete do então ministro da Fazenda.

Quem diz isso é a própria Caixa, em recurso apresentado em processo de indenização movido pelo caseiro: "O domínio do fato [o vazamento] pertencia ao ex-ministro da Fazenda [Palocci], apontado como mentor intelectual e arquiteto do plano, sobre o qual a Caixa não possui qualquer poder de mando. Ao contrário: é o ministro que possui poderes sobre a Caixa".

A Lusitana rodou, e o ministro se viu de novo enredado em encrencas. Diante de um retrospecto destes, quem tem que provar o quê?

O mais incrível é que, em situação de tal gravidade, envolvendo o principal ministro do governo, a presidente da República até hoje não tenha se manifestado publicamente. Não é com silêncio e omissão que se resolvem os problemas - como, aliás, restou mais uma vez comprovado ontem na Câmara, onde governo e PT foram fragorosamente derrotados na votação do novo Código Florestal.

Segundo o Valor Econômico, com base na aprovação do Código ontem, os aliados de Dilma Rousseff consideram que com ela "funciona a tática da faca no pescoço". Inerte, a presidente está se apequenando. A reestreia de Lula na ribalta política a fez menor ainda. A quem interessa isso?

O que parece claro é que os petistas viraram suas baterias para o oposição porque não têm convicção da lisura das atividades do ministro-chefe da Casa Civil. Tanto que, quando instados por Lula a ir para o embate, desfilaram "um rosário de reclamações sobre a ausência total de interlocução com o Planalto e com o próprio Palocci para que eles façam sua defesa".

O que a oposição tem cobrado são esclarecimentos. Esclarecimentos que, dez dias depois de reveladas as primeiras suspeitas, até hoje ninguém deu. O que a oposição, dentro dos princípios republicanos, faz é oferecer ao ministro a oportunidade e a ocasião adequadas para explicar o caso ao público: no Congresso, onde é apropriado o questionamento, a discussão e o debate.

A permanência da dúvida só é prejudicial a Antonio Palocci, porque suscita dúvidas, permite ilações. "O que parece inquestionável é que um homem público deva prestar contas à opinião pública (...) para que a empresa Projeto, de propriedade do ministro, não possa vir a ser comparada à EPC, de PC Farias, que se apresentava como uma empresa de consultoria destinada a alimentar o esquema de corrupção do governo Collor", escreve o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias na Folha de S.Paulo.

Se o PT viu necessidade de chamar o síndico, é porque as suspeitas devem estar longe de serem infundadas.

Fonte: ITV

Chamaram o síndico: por que tanto temor?

LEIS DEMAIS, NENHUMA LEI.

Há um paralelo que não pode ser omitido entre a prisão do diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Nova York, e a crise deflagrada em pleno centro do poder republicano no Planalto Central do Brasil pela constatação de que o patrimônio da empresa de assessoria do chefe da Casa Civil cresceu 20 vezes nos quatro anos em que hibernou entre dois ministérios.

Nos Estados Unidos dos pais fundadores da Revolução Americana de 1776, o favorito à eleição presidencial da França, em cujas mãos repousavam as esperanças da retirada do Primeiro Mundo da crise, Dominique Strauss-Kahn, foi preso ao tomar o avião que o levaria para fora do país, sob a acusação de tentativa de estupro da camareira de um hotel.

No Brasil contemporâneo, o governo a que Antônio Palocci serve faz o possível e o impossível para evitar que este se explique sobre delito que jura que ele não cometeu e do qual é acusado pela oposição, que, por sua vez, não consegue definir qual poderá ter sido a norma legal que teria sido atropelada.

Logo, o figurão petista corre o risco de perder posto e poder por sua fragilização política, mas não passa pela cabeça de ninguém que algum dia ele venha a responder por qualquer um dos crimes de que foi acusado, de vez que estes não foram tipificados.

No Estado Democrático de Direito ao norte do Rio Grande, iguais perante a lei, cidadãos dividem-se em legais e fora da lei. Na República petê-lulista, assim como nas modalidades de antes, os nativos distinguem-se entre condenados a cumprir a lei e os que ficam acima da ordem que eles próprios impõem.

O policial que frustrou a ascensão do futuroso político e gestor providencial do capitalismo de nossos tempos não pensou um segundo que fosse no currículo brilhante do detido nem nas dificuldades que os países industrializados mergulhados na crise passarão a ter com a perda do cérebro privilegiado que poderia tirá-los do sufoco.

A Strauss-Kahn não se deu nenhuma chance de aplicar uma carteirada tupiniquim do gênero "você sabe com quem está falando?", mantra dos poderosos pilhados em flagrante no Brasil desde as capitanias hereditárias até a atual democracia de massas.
Nem lhe coube vacilar movido por quaisquer considerações de ordem estratégica: o maganão foi preso porque violou a lei.

Contra o equivalente nacional ao caso do impetuoso "galã" gaulês não pesa nenhum dispositivo legal. Na prefeitura de Ribeirão Preto, Palocci protagonizou alguns escândalos que foram sepultados em nome de um antigo auxiliar visitado antes da hora pela Indesejada das Gentes.


Avalista de sensatez do pretendente do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República em 2002, o sanitarista tornou-se padrinho do casamento de Luiz Inácio Lula da Silva com a ortodoxia dita neoliberal e, em consequência, com a higidez fiscal.

E, nessa condição, assumiu pose e poder de czar da economia. Mas o escândalo bateu-lhe à porta novamente, acusado que foi de participar de um grupo de companheiros caipiras que alugaram uma mansão suspeita em área nobre da capital.


Como ocorreu com Fernando Collor de Mello e Paulo Maluf, nada foi provado contra ele. Ainda assim, Palocci caiu do telhado, deixando o Ministério da Fazenda livre para um quadro técnico do PT infinitamente inferior a ele em força e prestígio.
E perdeu a chance de ser ungido sucessor pelo chefe, abrindo caminho para Lula eleger Dilma.


Mas a tentativa grotesca de desqualificar o depoimento definitivo contra sua presunção de inocência, devassando de forma truculenta e asquerosa o sigilo fiscal do caseiro Francenildo dos Santos Costa, não o impediu de voltar à Câmara dos Deputados e ocupar posto de relevo na campanha vitoriosa da petista à Presidência da República.


As mãos manchadas, no mínimo, pela injusta perseguição ao modesto trabalhador contra quem jogou seu peso de todo-poderoso sobre um insignificante súdito continuam livres para agir enquanto sua presença no alto comando republicano não passar a ser mais perniciosa do que útil.


O ex-prefeito sob suspeita, ministro da Fazenda destronado por um escândalo e chefe da Casa Civil ameaçado por outro, formalmente, não violou a ordem jurídica. Afinal, no Estado Democrático de Direito à brasileira não há normas que regulem o lobby nem autoridade disposta a fazer cumprir os dispositivos legais que, em teoria, reprimem o tráfico de influência.


Aqui não se leva a sério o ancestral axioma romano segundo o qual à mulher de César não basta ser honesta, deveria parecê-lo. "Afinal, eu nem me chamo César", diria o melhor aluno da classe na escola do professor Lulinha.

Contra ele só conspira o fato de que patos mancos não nadam nos lagos palacianos de Brasília. O governo capaz de mandar seu bate-pau Vaccarezza postar agentes de segurança à porta das comissões para impedir reuniões que pudessem aprovar sua convocação para depor - uma violência nunca antes praticada nem mesmo por Hitler e Mussolini - despejará Palocci quando ele se tornar insustentável.

E, então, nos arraiais oposicionistas tremularão bandeirolas festivas numa tentativa de esconder o fato de que, se sobra truculência nas hostes governistas, falta competência nas que fingem se opor.

Fingem, sim, pois não há registro histórico de nenhum esforço de partido algum, da direita ou da esquerda, quando no governo ou na dita oposição, para tratar o tráfico de influência em cargos de poder pelo nome certo:
crime.

A meia impunidade que não impede que Palocci venha a perder o lugar quando se tornar mais inconveniente do que necessário o libera de punições de quaisquer naturezas na Justiça.

E também garante a liberdade dos adversários que almejam postos no poder para repetir sua façanha de consultor de formidável êxito.


No faroeste nacional, não há mocinhos nem vilões.
Há, sim, beneficiários de uma ordem em que leis demais permitem que elas não atinjam alguns poucos.

José Nêumanne

BRASIL MOSTRA A TUA CARA : A VOLTA DAS RODADAS DE BEBIDA FORTE PARA "APRUMAR" A "PRESIDENTA" DO MANDATO PREPOSTO SUBSERVIENTE

Com a presidente Dilma Rousseff e o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci,, sem reação diante das suspeitas que pesam sobre o aumento substancial no patrimônio do homem forte do governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula daom a presidente Dilma Rousseff e o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Silva assumiu ontem, de fato, a articulação política do Palácio do Planalto.

E, a seu estilo, orientou o ataque. Num discurso inflamado, na reunião com senadores do PT, Lula exigiu unidade do partido na defesa de Palocci e acusou o ex-governador José Serra (PSDB) de estar por trás do vazamento de dados sobre o faturamento da empresa de Palocci em 2010 - que teria sido de R$20 milhões -, por meio da Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo.

Os petistas evitaram citar, em público, o nome do suposto "vazador", mas as suspeitas deles recaem sobre o secretário de Finanças de Gilberto Kassab na prefeitura de São Paulo, Mauro Ricardo Machado Costa, que foi também secretário de Fazenda do Estado de São Paulo quando Serra era governador.

Oposição é muito fraca,
diz o ex-presidente

Depois do encontro com os senadores petistas, Lula permaneceu em Brasília para novas reuniões de articulação política. Deveria jantar à noite com a presidente Dilma - possivelmente com a presença de Palocci - e tem hoje reunião com líderes da base governista na casa do senador José Sarney (PMDB-AP).

Para Dilma, o ex-presidente deve relatar o que ouviu no almoço com os senadores petistas: muita reclamação contra a falta de ligação de Dilma e do Planalto com o PT; da impossibilidade de o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, exercer o papel de articulador agora que Palocci está ferido; e cobrança de definição sobre as pendências no preenchimento dos cargos.

- No meu governo, eu comecei a apanhar depois de um ano e seis meses. O bombardeio ao governo da Dilma começou muito cedo, primeiro quando a imprensa começou a dar matérias me separando dela. Agora, com esse ataque ao Palocci, estão testando a Dilma, porque ele é seu principal ministro. A oposição hoje vem principalmente de setores da imprensa, porque no Parlamento é muito fraca - disse Lula, quando falava do suposto vazamento de informações pela prefeitura de São Paulo.

Lula não falou ainda em público sobre as denúncias que pesam contra Palocci. Ontem, entrou e saiu pela garagem sem dar entrevistas, mas disse frases fortes no encontro com os petistas.

- O governo está vivendo um momento ímpar de colher os frutos do que foi feito. A inflação começa a ser controlada, os índices de crescimento são muito bons, temos a maior base parlamentar da História e força junto à sociedade, muitas obras para mostrar. E a oposição vem com um negócio desse com o Palocci para atrapalhar? - reclamou Lula, segundo relatos.

Quando o ex-presidente pediu unidade do partido "para defender o companheiro", ouviu de volta um rosário de reclamações sobre a ausência total de interlocução com o Planalto e com o próprio Palocci para que eles façam sua defesa. Ontem mesmo o líder do PT, Humberto Costa (PE), foi ao Planalto em busca de informações e voltou sem respostas. Sequer falou com Palocci.

No caso dos cargos, os petistas disseram que Dilma tem que dar uma solução, nem que seja para desagradar, para não deixar essas pendências eternamente na pauta da base aliada.
- Você, Lula, é a pior pessoa para ouvir isso. Quem tinha que ouvir essas preocupações do partido era a presidente Dilma - disse Jorge Vianna (AC) durante o almoço.

Lula falou de seu contato permanente com Dilma, dos encontros quinzenais que os dois mantêm e das conversas por telefone nesses intervalos. Prometeu que a orientaria a sair do isolamento e dar mais "carinho" aos aliados no Congresso. Lula chegou a comentar que os políticos muitas vezes querem "apenas carinho".

Há somente ilações, diz líder do PT, Humberto Costa

Sobre a defesa de Palocci, todos concordaram que por enquanto ele ainda não enfrenta uma acusação cabal que inviabilize sua permanência no governo. E a estratégia para barrar sua ida ao Congresso é argumentar que é preciso esperar que Palocci encaminhe sua defesa à Procuradoria Geral da República.

- A posição do presidente Lula é semelhante à nossa. Até o presente momento não existe nenhuma acusação frontal contra o ministro Palocci que vá abalar nossa confiança nele. Apenas ilações, e cabe aos acusadores apresentar as provas - relatou Humberto Costa.

- O presidente Lula transmitiu a nós a necessidade de que o partido esteja unido na defesa do companheiro Palocci, que age com seriedade e é uma pessoa muito importante para o governo Dilma e para o Brasil - completou Eduardo Suplicy(SP).

Treze dos 15 senadores petistas compareceram ao almoço na casa da senadora Gleisi Hoffmann(PR) e do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, também presente. Faltaram os senadores Delcidio Amaral (MS) e Walter Pinheiro (BA).

Maria Lima O Globo / Lula sai em socorro de Palocci e Dilma