"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 24, 2010

2011, HORA DE PROVAR DO PRÓPRIO VENENO? HERANÇA MALDITA? BOCA FALA O...?O CACHAÇA JÁ ESTÁ RESPONSABILIZANDO "OUTROS" DO QUE PODE VIR POR AÍ!


A presidente eleita vai provar do próprio veneno.

Receberá do governo Lula uma situação econômica em compasso de desarranjo: inflação em alta, juros subindo, câmbio muito valorizado, contas externas sangrando no vermelho e gastos públicos em disparada.

Pode haver herança mais maldita que esta?

Domar esta fera é uma das missões de Alexandre Tombini, escolhido por Dilma Rousseff para ser o novo presidente do Banco Central. Mas as análises correntes dão conta de que a escolha se deve ao fato de que, com ele, será mais fácil encabrestar a autoridade monetária. Se é isso mesmo o que quer, o novo governo pode estar flertando com o perigo, que responde pelo nome de inflação.

Ontem, o IBGE divulgou o IPCA-15, prévia do índice oficial de inflação. A alta foi de 0,86%, a maior para o mês desde 2002. Vale repetir: é a maior inflação para meses de novembro registrada ao longo de todo o governo Lula. Corre o risco de piorar.

Alimentos e bebidas aumentaram 2,11%. Pode ser apenas um salto ocasional, mas se a taxa fosse anualizada equivaleria a reajustes beirando 30% em 12 meses. Não se trata mais da "inflação do feijão", pontual, como ocorreu pouco tempo atrás; os aumentos se disseminaram.

Houve altas expressivas em vários alimentos importantes na dieta das famílias: feijão carioca (10,83%),
açúcar cristal (14,05%),
tomate (10,28%),
batata inglesa (9,96%),
feijão preto (7,15%),
farinha de trigo (5,76%) e açúcar refinado (4,50%).

Pôr comida na mesa do brasileiro já está sensivelmente mais caro. Mas pode ficar ainda mais.
Prevê-se para 2011 uma oferta global de alimentos mais apertada que a de 2010. Mesmo que não haja escassez, a mera perspectiva de redução de estoques é, em geral, suficiente para elevar as cotações.
Os preços tendem a subir, levando junto a inflação, e esta é a mais grave ameaça a ser combatida.

Serviços passaram a acumular alta de 7,38% no acumulado em 12 meses. Nessa base de comparação, a variação de preços no segmento já se aproxima dos picos históricos recentes, verificados em outubro de 2003 e maio de 2009. Como consequência, os IGP saíram de -2% para 10% em 12 meses.

Como servem de indexadores para diversos tipos de contratos, a exemplo de energia, telefonia e, principalmente, aluguéis, tais aumentos se propagam no tempo: as tarifas e mensalidades são reajustadas com base no índice e, ato contínuo, geram nova inflação no período seguinte.

Tudo considerado, segundo projeções de mercado colhidas no boletim Focus, a inflação deste ano deve bater em 5,6% e em 5,1% em 2011, ambas acima da meta estipulada pelo BC, de 4,5%.
Não é de hoje que os analistas passaram a vislumbrar risco maior de aumento de preços: há dez semanas, ou seja, desde o início de setembro, as projeções para 2010 sobem.

O governo Lula, porém, até agora deu de ombros.
O máximo que fez foi continuar a maquiar os resultados das contas públicas, baixando sucessivamente as metas de superávit fiscal.
Sem os malabarismos, o superávit fiscal caiu a 0,5% do PIB nos dois últimos anos, segundo estudo do Santander.

Nos seis anos anteriores, pelo mesmo critério, havia sido de 2%. A meta era 3,3%.
Já sob as bênçãos da presidente eleita, a equipe econômica decidiu retirar dos cálculos do superávit os investimentos da Eletrobrás, levando a meta de 2011 para 3,1% do PIB.
Investir em infraestrutura é saudável, mas o histórico da Eletrobrás no quesito é lastimável.
Sob seu guarda-chuva estão várias distribuidoras estaduais que deveriam ter sido privatizadas, mas foram mantidas estatais.

São um sorvedouro de dinheiro público.
Ou seja, na prática, Dilma aceitou drenar o superávit pelo ralo destas concessionárias, o que colide com seu discurso de austeridade fiscal.

Até agora pouco se sabe do que a eleita propõe de fato para a condução da nossa economia. Tem-se dito que ela perseguirá a redução da dívida pública de 41% para 30% do PIB em quatro anos.
Também tem sido divulgado que a meta é baixar o juro real dos atuais 5,3% para 2%.

Papel aceita tudo.

(...)
É tudo o que o governo Lula não fez, até porque sua política expansionista mirava beneficiar a eleição da sucessora: os gastos públicos cresceram 17% nos últimos 12 meses.

(...)

Lula parece já ter percebido o clima azedo da economia no ar. Esperto como é, vacinou-se: disse que se sua pupila receber uma "herança maldita" será culpa da crise internacional. Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e Itália estão derretendo, mas só servem como alerta para a imprevidência que o PT demonstrou até agora. Não como desculpa.

Fonte: ITV
A galope e com as rédeas soltas

CAPITAL ESTRANGEIRO DE CURTO PRAZO É USADO COMO SOLUÇÃO DE FINANCIAMENTO DA EXPANSÃO DA ECONOMIA. DÉFICIT É DE US$ 38,7 bi.

O rombo nas contas externas chegou a US$ 38,7 bilhões no ano após registrar, em outubro, um deficit de US$ 3,7 bilhões. No ano, o tamanho do buraco já é maior que o dobro em igual período de 2009 (US$ 15 bilhões).
Pela lupa dos especialistas, o saldo negativo reflete um Brasil crescendo além do que é capaz e dependente do capital de outros países para se financiar.

O Investimento Estrangeiro Direto (IED), destinado ao setor produtivo e sempre evocado como antídoto aos estragos nas contas externas, não tem sido capaz de acompanhar tamanha deterioração e o governo está se vendo obrigado a atrair capital especulativo, extremamente sensível às turbulências, para suprir as necessidades do país.

No acumulado de 12 meses, o buraco nas contas externas alcançou US$ 47,9 bilhões, o que representa um avanço de 123,8% ante novembro de 2009.
Já o investimento estrangeiro direcionado para a produção avançou em ritmo bem mais modesto: 24,9% em igual base de comparação.

O que o capital estrangeiro não tem conseguido cobrir está ficando a cargo dos recursos aplicados na bolsa de valores e títulos da renda fixa. Até outubro, essa porta de entrada para dinheiro estrangeiro no Brasil registrou o maior volume desde 1995: US$ 48,4 bilhões.

Esse cenário, de acordo com economistas ouvidos pelo Correio, mostra que, enquanto o Brasil mantiver taxas de juros elevadas, vai atrair mais dinheiro de especuladores do que recursos para o desenvolvimento do país.

“O problema é que, se ocorre uma turbulência, esse capital especulativo vai embora e a gente perde o que financia nosso crescimento”, ponderou Haroldo Mota, professor de finanças da Fundação Dom Cabral.

“Somos dependentes desse capital e isso é ruim. Nosso ritmo de atividade está alto e necessitamos alugar equipamentos lá fora e transporte para continuarmos a produzir e exportar”, explicou Mota.

Trajetória

Túlio Maciel, chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, argumenta que não há motivo para alarde. Por enquanto, o país está conseguindo se financiar — mesmo que com o dinheiro do mercado financeiro — e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país), estimado em 7,5% para este ano, está sendo bancado em parte por esses recursos.

“O deficit reflete o poder de consumo do brasileiro, que está viajando mais para o exterior e ainda o maior dinamismo da nossa produção”, disse.

Economista-chefe do banco Fibra, Maristella Ansanelli concorda que o buraco nas transações correntes ocorre em função do forte crescimento do país, porém, ela afirma que é preciso pensar no longo prazo e mudar esse quadro.

“No curto prazo, ele está permitindo que a gente cresça, mas isso é sustentável?”, questiona.

“Não pode crescer (o rombo) indefinidamente. Se não conseguirmos financiar isso, os impactos virão por meio de desvalorização do real e inflação”, alertou.

Ainda assim, as projeções não são de melhora nessas contas.

“Até o fim deste ano, esperamos que o deficit em conta-corrente siga a mesma trajetória de intensificação observada nos últimos meses, encerrando o ano em torno de US$ 50 bilhões”, calculou Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.

Para 2011, o BC projeta um rombo de US$ 60 bilhões, mas analistas de mercado e economistas mais pessimistas afirmam que o buraco pode chegar a US$ 80 bilhões.

Victor Martins Correio Braziliense